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Dieta do Mediterrâneo é invenção dos deuses
Com um cardápio à base de frutas, legumes, verduras, massas e
peixes, povos de países como Itália e Grécia vivem mais e melhor
A dieta do Mediterrâneo parece criação de Dionísio. Só um filho de Zeus e deus do vinho conseguiria unir ingredientes de sabor e aroma intensos que também são saudáveis e ricos em nutrientes. Melhor para os povos dos 17 países debruçados
sobre o mar Mediterrâneo, como Grécia, Espanha, Itália ou Marrocos, que, além de viverem
mais porque têm menor incidência de
vários tipos de câncer, degustam diariamente receitas saborosas à base de frutas,
legumes, verduras, massas e frutos do
mar. Tudo isso regado a suco de uva fermentado e de azeitona - nossos conhecidos vinho e azeite de oliva.
Maurizzio Longobardi, 39, é um desses
italianos que goza de saúde impecável
graças à boa alimentação. Há um ano e
meio, ele divide as delícias da gastronomia mediterrânea com clientes brasileiros no restaurante Grazie a Dio, na Vila
Madalena (SP), do qual é sócio. "Meu interesse pela culinária é genético. Nós tratamos a gastronomia como uma questão
cultural. E a culinária do Mediterrâneo é
muito natural e fácil de ser preparada",
afirma o milanês que vive no Brasil há
dez anos. Outra vantagem que ajuda a explicar a popularidade da dieta desses povos é o fato de ser facilmente adaptável às
regiões mais distintas do planeta.
No Grazie a Dio, verduras, legumes,
frutos do mar e massas tipicamente italianas, preparadas sem ovos e com trigo
duro, formam a base do menu. "O azeite
de oliva é indispensável. Uso sempre os
italianos ou gregos porque são os melhores", indica Longobardi.
Os benefícios e as delícias da culinária
mediterrânea foram descobertos na década de 60 e voltaram a chamar a atenção
no final dos anos 90. A colunista da Folha
Nina Horta, que esteve em Londres há
poucas semanas, conta que lá a comida
da moda é inspirada na dieta mediterrânea. "Ela está em quase todos os menus
porque os ingleses acreditam que faz
muito bem à saúde. No Brasil, os chefs
modernos também aderiram à dieta do
Mediterrâneo. Usa-se muita berinjela, tomate seco, azeite de oliva, mussarela de
búfala e grelhados", diz.
Adaptações
Reproduzir com exatidão a dieta mediterrânea não é possível
nem adequado. Mas dá para adaptá-la à
mesa do brasileiro. "O principal ingrediente da dieta do Mediterrâneo é o bom
senso: pode-se comer de tudo, sem exageros", afirma Jocelem Salgado, pesquisadora em nutrição da Esalq-USP.
Ela dá três pistas importantes que ajudam a entender por que os povos mediterrâneos gozam de boa saúde. "Eles consomem diariamente legumes, frutas e
verduras ricas em antioxidantes que retardam o envelhecimento. E comem menos açúcar e alimentos com conservantes
porque a região em que vivem foi menos
influenciada pela marcha tecnológica do
que o resto da Europa", explica.
Para Salgado, a vida sedentária e estres
sante das grandes cidades brasileiras seria
mais saudável se a população incorporasse o
lazer e a atividade física ao cotidiano, a exemplo dos povos mediterrâneos. "Essas atividades estimulam a produção de enzimas e endorfinas que dão prazer, alegria e tiram um
pouco o apetite", diz Salgado.
Para os especialistas, até hábitos aparentemente banais como fazer compras influenciam na longevidade dos mediterrâneos.
"Eles não fazem compras como a gente, que
vai ao supermercado uma vez por semana e
faz disso um processo desgastante. Eles compram diariamente os alimentos para as refeições do dia. A saída para compras é até um
exercício", explica a professora Elizabeth
Torres, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Para ela, a base da dieta dos povos dos países banhados pelo mar Mediterrâneo é semelhante a dos brasileiros, o que facilita na
hora de fazer as adaptações. "A base da dieta
deles e da nossa é a mesma: carboidratos e
cereais. Depois, assim como na nossa, vêm
frutas, hortaliças e leguminosas."
Diferentemente do brasileiro, porém, eles
consomem muito azeite de oliva e produtos
lácteos como queijos e iogurtes, embora bebam pouquíssimo leite. Também comem
muito pescado, pouco frango e menor quantidade ainda de carne vermelha. E bebem vinho tinto diariamente, além de dar muita
importância ao lazer.
"Eles não têm planícies para criar gado. Por
isso o leite geralmente é de cabra, e o consumo de carne vermelha é pequeno, limitando-se ao cordeiro. Eles abusam do azeite de oliva
porque, na região, as oliveiras são tão abundantes quanto a soja é no Brasil", diz Torres.
Ao comparar a dieta de brasileiros e mediterrâneos, a nutricionista aponta que, embora o brasileiro tenha bons hábitos alimentares, ele exagera no consumo de açúcar, frituras e carne vermelha. Outro problema apontado por Torres é que, por preguiça ou falta
de tempo, os brasileiros preferem comer doces e produtos industrializados em vez de
frutas e verduras, consumindo sal e ácido em
excesso. Afinal, o Mediterrâneo não é aqui.
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