São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008
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OFTALMOLOGIA

outros olhares

Conheça tipos de cirurgia oftalmológica que podem ser adotados como alternativas ao Lasik, método que está sendo questionado, e as vantagens e as desvantagens de cada procedimento

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Recentemente, a cirurgia ocular com laser chamada Lasik ganhou as manchetes. O procedimento, que começou a ser utilizado no final dos anos 90, corrige o grau de miopia, de hipermetropia ou de astigmatismo, eliminando a necessidade de óculos ou lentes de contato. Como a recuperação e os resultados são rápidos, não demorou muito para essa cirurgia se tornar bastante popular.
Mas o interesse e as notícias atuais não se devem às vantagens associadas ao Lasik. Foram reclamações de pacientes e entidades, questionando sua eficácia e apontando riscos de efeitos indesejados, que levantaram a discussão sobre a cirurgia e levaram o FDA, órgão regulador do setor de saúde dos EUA, a iniciar debates e estudos sobre o procedimento para verificar seria o caso de emitir um alerta.
Tais notícias acenderam o sinal amarelo para muitos dos potenciais candidatos à cirurgia. O que não é de todo mal. Por um lado, oftalmologistas continuam considerando a técnica boa e argumentam que o número de problemas é pequeno em relação à quantidade de cirurgias realizadas.
"Talvez o excesso de indicação seja a causa do aumento de complicações em uma cirurgia que é segura", diz o oftalmologista Paulo Schor, vice-diretor do curso de tecnologia em saúde da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por outro lado, é bom o paciente ter claro que não deixa de ser uma intervenção cirúrgica e que isso sempre implica algum risco -a aparente facilidade faz muita gente se esquecer disso.
Quem está preocupado com os possíveis efeitos do Lasik, mas ainda espera se livrar dos óculos de grau ou das lentes de contato, talvez não saiba que ele não é a única alternativa para a correção de grau. O sucesso que o Lasik alcançou fez com que outras opções, como o PRK, também com laser, ficassem à sombra.
A principal diferença entre as duas técnicas é que o PRK é feito por cima da córnea, enquanto, no Lasik, o laser é aplicado no interior da córnea. Além de demorar um pouco mais para apresentar resultados e de ser um pouco mais dolorido, o PRK, que começou a ser utilizado antes do Lasik, apresentava nos primórdios um maior risco de gerar cicatrizes. O desenvolvimento da técnica e a associação a medicamentos específicos diminuiu esse risco.
A indicação de um ou outro procedimento depende, acima de tudo, das condições específicas do olho de quem vai ser operado. Mas há casos em que ambas podem ser feitas. Aí vai depender das preferências do médico e do paciente. A atriz Simone Baptista, 41, é uma que sentiu medo do Lasik, meses antes de as contestações sobre o procedimento receberem destaque nos meios de comunicação. "A idéia de cortar algo dentro do olho me impressionava muito. Fiquei sabendo que o PRK tinha recuperação mais lenta e doía mais, mas o escolhi porque me dava menos aflição", conta ela, que se submeteu à cirurgia há nove meses.
"Não há consenso. Há médicos que preferem o Lasik e outros que preferem o PRK", afirma Denise Fornazari de Oliveira, especialista em córnea e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Isso quando não há um quadro que defina a escolha, como a espessura da córnea.
Outro fator determinante é o grau de miopia. "Acima de quatro graus, é melhor o Lasik, desde que todos os parâmetros do olho, com exceção da miopia, sejam normais", diz Newton Kara José, professor de oftalmologia da USP (Universidade de São Paulo).
No X Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa, realizado semana passada em Goiânia, as duas técnicas foram discutidas. "Alguns conceitos, como o de que graus até três seriam ótimos para PRK, estão sendo revistos. Mas acho que a mensagem mais importante do congresso foi a de que não existe um procedimento absoluto [ideal para todos os casos]", diz Schor.
A seguir, conheça as técnicas usadas atualmente para a correção de grau e os prós e os contras de cada uma.

LASIK
Utiliza a energia do laser Excimer, conhecido como "laser frio", por não produzir calor. É feito um corte que levanta a camada mais superficial da córnea e o laser é aplicado, remodelando o formato da córnea. Então, a fatia de tecido que foi levantada é recolocada no local.
Pode causar olho seco e fotofobia, mas, na maioria dos casos, os efeitos desaparecem em poucos dias. Pode deixar grau residual (permanência de algum grau de miopia, por exemplo, mas menor do que antes da operação).

PRK
Utiliza o mesmo laser Excimer, que é aplicado por cima da córnea, raspando sua camada mais superficial. Atualmente, são usados medicamentos que diminuem o risco de cicatriz, efeito comum nos primórdios da técnica.
Causa menos olho seco do que o Lasik, mas a fotofobia pode ser maior após o procedimento. Não é indicado para graus acima de quatro, mas esse conceito está sendo revisto. Atualmente, presta-se mais atenção à espessura da córnea. Se ela for um pouco mais baixa, pode-se optar pelo PRK mesmo em graus moderados, como cinco.

IMPLANTE DE LENTE COM RETIRADA DO CRISTALINO
Serve para miopias e hipermetropias acima de dez graus. O cristalino (a lente do próprio olho) é retirado como em uma cirurgia de catarata, e uma lente intra-ocular é colocada.
É um procedimento mais invasivo do que os feitos com laser. Em pacientes mais jovens, ficar muito tempo sem o cristalino implica riscos maiores. Por isso, sua retirada sem a presença de catarata é questionada. Aumenta o risco de descolamento da retina.

IMPLANTE DE LENTE SEM RETIRADA DO CRISTALINO
Nesse procedimento, uma lente intra-ocular é implantada sem a remoção do cristalino. Também invasiva, pode desestabilizar a retina. Como o procedimento acima, é para graus altos de miopia.

CERATOPLASTIA CONDUTIVA
Utilizada para corrigir hipermetropia de grau baixo e presbiopia ("vista cansada"), não é feita com laser. Consiste na liberação controlada de energia por radiofreqüência, que, ao esquentar a estrutura de colágeno dentro da córnea, modifica sua forma.
A redução de grau não é definitiva. Não é possível controlar com exatidão o grau a ser obtido. É um método recente e não se conhecem todas as suas conseqüências a longo prazo.


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