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Rosely Sayão
Brigas entre irmãos
I
rmãos brigam, disputam,
rivalizam, competem e
se estranham com freqüência e as relações entre eles são, para muitos pais,
motivos de preocupação. Parece que hoje, mais do que nunca,
os pais querem fazer de tudo
para que os filhos se dêem bem.
Dá para entender os motivos
desses pais que almejam que
seus filhos se amem e sejam
companheiros. No contexto em
que vivemos, com laços afetivos
tão frágeis, a aliança entre irmãos parece ser a única que
promete durar por toda a vida
-e poderia ser, portanto, antídoto contra a solidão.
Por esse motivo, sempre que
os irmãos brigam, os pais padecem. Eles esperam que, desde
sempre, os filhos compartilhem tudo, cedam a vez com
tranqüilidade, sejam solidários.
Acontece que nada disso é natural -tudo precisa ser experimentado e aprendido.
Não é fácil para uma criança
repartir, com os irmãos, o amor
e a atenção de seus pais. Quando nasce, o bebê tem dedicação
quase integral dos pais e logo
percebe o quanto isso é bom.
Ser o centro da vida dos pais é
muito prazeroso e leva a um
sentimento de posse. E perceber que é preciso compartilhar
esse lugar com outros na mesma condição já não é tão bom. É
por isso que, entre irmãos,
sempre há ciúme e outras emoções hostis que levam a brigas,
que são normais e saudáveis.
Nem sempre os pais aceitam
e enfrentam tal fato com tranqüilidade. Hoje é muito mais
comum os pais interferirem
precocemente nessas desavenças. Mas é bom saber que isso
pode ser um problema. Em primeiro lugar, porque interferir
sem tomar partido é bem difícil, não é verdade? Em segundo
lugar, porque o objeto da briga
é, quase sempre, irrelevante e
banal. O que está em jogo é
mesmo o ciúme entre os irmãos, e isso sinaliza uma única
coisa: que ambos amam seus
pais e desejam ter o amor deles
exclusivamente para si. Em terceiro lugar, porque as reações
dos pais diante das brigas podem provocar o oposto do que
eles gostariam: ressentimentos
entre os irmãos.
Isso não significa que os pais
devam se abster de qualquer interferência. Eles precisam, sim,
intervir, sempre que a briga se
tornar violenta -em palavras
ou em atos. Os pais precisam é
ensinar aos filhos que eles devem se respeitar. O amor fraterno pode surgir depois dessa
aprendizagem.
A ação dos pais que observam
as brigas entre seus filhos e só
intervêm quando eles perdem
o controle e o respeito possibilita que os mais novos aprendam que é possível expressar os
conflitos sem medo de destruir
o outro. Eles aprendem também a buscar saídas para seus
enfrentamentos, ou seja, a negociar, a ceder e a conhecer
seus próprios limites e os do
outro. Isso não deixa de ser
uma educação afetiva.
Para tanto, os pais precisam
não se desesperar com as brigas, porque isso pode apontar
que os irmãos são perigosos um
para o outro. E isso pode colaborar para que, de fato, eles assim se tornem.
O mais importante para os
pais é que eles saibam que a relação entre os filhos pode mudar a qualquer momento e que
as brigas fazem barulho, mas
são intercaladas por bons momentos de convivência.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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