São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005
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Higiene

Novos produtos para higiene íntima da mulher dividem médicos e exigem cautela

Cuidados pessoais

Ana Paula de Oliveira
da reportagem local

Os produtos específicos para a higiene íntima da mulher -sabonetes, lenços umedecidos e desodorante vaginal, além de sabão próprio para a lavagem da calcinha-, que invadiram recentemente as prateleiras das farmácias, não são consenso entre os especialistas.
"Sempre convivemos com o uso de sabonetes comuns para lavar as partes íntimas. Não é porque os produtos específicos estão aí que deverão ser consumidos indiscriminadamente", opina Tânia das Graças Santana, ginecologista do hospital Pérola Bynghton.
Para o ginecologista Antonio Luiz Bonanséa, apesar de o uso não ser obrigatório, pode ajudar a equilibrar o pH vaginal e, com isso, evitar infecções e irritações na vagina.
Isso porque a vagina possui pH ácido -entre 3,5 e 4,5. À medida que se torna mais alcalino, o meio fica mais propício à proliferação de microorganismos nocivos, favorecendo o surgimento de candidíase e gonorréia, por exemplo. E é exatamente desse argumento que os sabonetes vaginais se valem para atrair a consumidora, uma vez que os convencionais possuem pH muito acima do da vagina. Entre alguns dos disponíveis no mercado brasileiro, estão Vagisil, Dermacyd, Hygine, Intimamente Íntimo e Androgynecoll.
Entretanto o uso rotineiro desses produtos, de acordo com o ginecologista Décio Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pode causar problemas, pois a vagina possui uma flora bacteriana que a protege contra parasitas e microorganismos nocivos. "Essas substâncias com ação anti-séptica eliminam não só as bactérias nocivas mas também as benéficas. O uso contínuo pode favorecer irritações e até infecções pela eliminação da defesa", explica.
Além dos sabonetes, estão à venda desodorantes, sprays e lencinhos umedecidos específicos para a região vaginal, que também devem ser usados com cautela, no máximo três vezes por semana, de acordo com Bonanséa.

Crescimento
Por conta do crescimento dessa seara, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no ano passado, tratou de regulamentar o mercado. Para tanto, com base em parecer técnico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a agência determinou que os produtos específicos para a higiene vaginal não podem ser tratados como cosméticos, portanto, devem ser vendidos somente em farmácias e drogarias -e não em supermercados, ao lado dos sabonetes comuns.
Pesquisa feita pela empresa Blowjet em sete Estados brasileiros sobre o hábito de lavagem das calcinhas pelas mulheres constatou que 90% delas lavam suas próprias peças à mão, sendo que 86% o fazem no banho. O resultado foi o lançamento, há um ano e meio, do Higi Calcinha, um sabão líquido específico para lavar calcinha, principalmente embaixo do chuveiro.
Novamente, os especialistas divergem sobre o processo de lavagem. Enquanto uns dizem que a peça íntima não deve ser lavada com sabão em pó, por conta de resíduos supostamente nocivos à vagina, outros alegam que, contanto que o enxágüe seja bem-feito, não existe problema nenhum.
Porém em uma coisa os especialistas estão de acordo: independentemente do produto usado, a higiene íntima deve ser muito bem-feita e, a qualquer sinal de mau cheiro ou secreção anormal, a mulher deve recorrer ao médico, e não a paliativos.


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