São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007
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A maturidade dos vestibulandos

Dia do Vestibulando.
Não é incrível que haja uma data para lembrar uma situação tão efêmera? O estudante que se prepara para prestar o vestibular gasta nisso um ano, no máximo dois -quando ele insiste em cursar determinada faculdade e não um curso. Damos valor a isso: há grife inclusive na faculdade. Não sei se podemos considerar que há cursos de graduação muito melhores que outros; talvez o mais sensato seja reconhecer que há cursos muito piores que outros.
Conversei com alguns vestibulandos para entender como passam por esse período. Quase não encontrei consensos. Há vestibulandos que levam essa fase "numa boa", como dizem.
Estudam o necessário para passar, contando com a sorte, e não abrem mão de sua vida pessoal -continuam a namorar, passear e viver como antes.
Esses alunos têm em comum certa maturidade: têm a primeira escolha (a faculdade ou curso que desejariam freqüentar) e várias alternativas. Pelo jeito, não se sentirão humilhados nem diminuídos se tiverem de optar por elas. Um deles expressou o que considerei maturidade numa frase: "A gente passa no que pode, nem sempre no que quer". Mas é preciso lembrar que todos eles se importam com o exame e se dedicam -uns mais, outros menos.
Um outro grupo é o dos indecisos: eles estão patinando na escolha da profissão, ou melhor, do curso. Já mudaram de opinião várias vezes e parece que buscam garantias de vida no futuro próximo. Eles têm muitas perguntas sobre a vida e quase não têm interlocutores -alguns freqüentam programas de orientação vocacional, mas não ficam satisfeitos com o resultado e contam com a benevolência dos pais nessa indecisão. Por sinal, muitos adultos consideram precoce a escolha da profissão nessa idade. Isso não é uma aposta na imaturidade dos jovens e na imobilidade da vida profissional?
Um grupo que me chamou a atenção foi o dos jovens que se sentem pressionados. Eles nem sempre conseguem localizar de onde vem a pressão: pode vir dos pais (nem sempre direta), pode vir de seus pares, pode vir da sociedade. O fato é que a pressão já está internalizada e, mesmo que não seja clara, eles sempre irão enxergá-la e sofrer.
A ansiedade é a maior conseqüência dessa pressão e colabora para que esses adolescentes fiquem quase paralisados frente à missão que têm: estudam e não rendem, fracassam por antecipação e se culpam por isso.
Por último, há jovens que não sabem por que são vestibulandos. Eles parecem não encontrar sentido nos estudos e prestarão vestibular porque acham o fato inevitável. O mais sério é que desdenham o futuro e não imaginam que o que fazem no tempo presente é uma construção do que viverão logo mais.
O que mais me impressionou nas conversas com os vestibulandos foi a solidão e o abandono em que vivem, mesmo que não reconheçam tais situações.
Fizemos com que acreditassem que passar no vestibular seria uma coisa importantíssima na vida deles, mas aprender a viver -e prestar vestibular é só um detalhe nesse aprendizado- tem muito mais valor. Para isso, a presença educativa e dedicada dos adultos -não infantilizadora- ainda é imprescindível, por mais que os jovens a queiram dispensar.

[...] Muitos adultos consideram precoce a escolha da profissão; não é uma aposta na imaturidade dos jovens?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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