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A maturidade dos vestibulandos
Dia do Vestibulando.
Não é incrível que
haja uma data para
lembrar uma situação tão efêmera? O estudante
que se prepara para prestar o
vestibular gasta nisso um ano,
no máximo dois -quando ele
insiste em cursar determinada
faculdade e não um curso. Damos valor a isso: há grife inclusive na faculdade. Não sei se podemos considerar que há cursos de graduação muito melhores que outros; talvez o mais
sensato seja reconhecer que há
cursos muito piores que outros.
Conversei com alguns vestibulandos para entender como
passam por esse período. Quase não encontrei consensos. Há
vestibulandos que levam essa
fase "numa boa", como dizem.
Estudam o necessário para passar, contando com a sorte, e não
abrem mão de sua vida pessoal
-continuam a namorar, passear e viver como antes.
Esses alunos têm em comum
certa maturidade: têm a primeira escolha (a faculdade ou
curso que desejariam freqüentar) e várias alternativas. Pelo
jeito, não se sentirão humilhados nem diminuídos se tiverem
de optar por elas. Um deles expressou o que considerei maturidade numa frase: "A gente
passa no que pode, nem sempre
no que quer". Mas é preciso
lembrar que todos eles se importam com o exame e se dedicam -uns mais, outros menos.
Um outro grupo é o dos indecisos: eles estão patinando na
escolha da profissão, ou melhor, do curso. Já mudaram de
opinião várias vezes e parece
que buscam garantias de vida
no futuro próximo. Eles têm
muitas perguntas sobre a vida e
quase não têm interlocutores
-alguns freqüentam programas de orientação vocacional,
mas não ficam satisfeitos com o
resultado e contam com a benevolência dos pais nessa indecisão. Por sinal, muitos adultos
consideram precoce a escolha
da profissão nessa idade. Isso
não é uma aposta na imaturidade dos jovens e na imobilidade
da vida profissional?
Um grupo que me chamou a
atenção foi o dos jovens que se
sentem pressionados. Eles nem
sempre conseguem localizar de
onde vem a pressão: pode vir
dos pais (nem sempre direta),
pode vir de seus pares, pode vir
da sociedade. O fato é que a
pressão já está internalizada e,
mesmo que não seja clara, eles
sempre irão enxergá-la e sofrer.
A ansiedade é a maior conseqüência dessa pressão e colabora para que esses adolescentes
fiquem quase paralisados frente à missão que têm: estudam e
não rendem, fracassam por antecipação e se culpam por isso.
Por último, há jovens que não
sabem por que são vestibulandos. Eles parecem não encontrar sentido nos estudos e prestarão vestibular porque acham
o fato inevitável. O mais sério é
que desdenham o futuro e não
imaginam que o que fazem no
tempo presente é uma construção do que viverão logo mais.
O que mais me impressionou
nas conversas com os vestibulandos foi a solidão e o abandono em que vivem, mesmo que
não reconheçam tais situações.
Fizemos com que acreditassem
que passar no vestibular seria
uma coisa importantíssima na
vida deles, mas aprender a viver
-e prestar vestibular é só um
detalhe nesse aprendizado-
tem muito mais valor. Para isso, a presença educativa e dedicada dos adultos -não infantilizadora- ainda é imprescindível, por mais que os jovens a
queiram dispensar.
[...] Muitos adultos consideram precoce a escolha da profissão; não é uma aposta na imaturidade dos jovens?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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