|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Como a legislação protege o surdo
"Os surdos, como qualquer um,
precisam não só de religião, mas
de cultura, informação." A declaração é de Cláudia Barbosa Pereira, 37, dentista que, por influência
de amigos surdos, aprendeu libras e hoje possui uma clientela
com 70% de surdos. Ela faz referência à religião porque as igrejas
evangélicas estão entre os grupos
que mais prestam atenção aos deficientes auditivos.
Um dos raros programas de TV
que oferece tradutor de libras no
canto da tela pertence a uma igreja evangélica. Aliás, segundo a Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos),
entre os surdos há uma predominância de evangélicos.
Mas o que se sabe, estatisticamente, é que 10% da população
mundial, segundo estimativa da
OMS (Organização Mundial da
Saúde), é portadora de deficiência
auditiva. No Brasil, isso representaria 1,76 milhão de pessoas, segundo o último Censo. E mais: na
região metropolitana de São Paulo, o número de surdos chegaria a
cerca de 180 mil pessoas.
"Acho que todos os profissionais de atendimento ao público
deveriam, pelo menos, saber o
básico da língua de sinais, como
se sabe do inglês", diz a dentista,
que também mantém um portal
na internet (www.sentidos.com.br) e uma revista ("Sentidos"),
ambos especializados.
O Ministério Público Federal
tem feito reuniões periódicas
com lideranças de surdos para estudar formas de exigir o cumprimento das poucas leis que tratam
da inclusão dos deficientes auditivos. No ano passado, a prefeita
Marta Suplicy sancionou uma lei
que institui a libras em São Paulo
e determina a existência de um
intérprete da língua em locais de
grande afluência pública, como
shoppings e hospitais.
Enquanto nos EUA há universidades como a Gallaudet University, que, há 90 anos, forma surdos usando apenas a língua americana de sinais como idioma, em
São Paulo, há 22 escolas, entre públicas e particulares, que ensinam
surdos com libras. Porém somente duas oferecem o ensino médio.
A política atual de inclusão dos
portadores de deficiência praticada pelo governo paulista consiste
em admiti-los nas escolas públicas comuns. "Colocar uma criança surda junto com outras ouvintes é uma violência sem tamanho.
Fatalmente ela terá problemas
emocionais", diz Fernando Capovilla, da USP.
Já para a fonoaudióloga Clay
Rienzo Balieiro, da Derdic, o problema só ocorreria se o surdo não
tivesse sido oralizado adequadamente antes de entrar na escola.
No caso dos serviços de saúde, a
situação é mais complicada quando o médico não sabe nada de libras e o hospital não possui intérprete. Em São Paulo, o Hospital
das Clínicas é um dos poucos que
possui um serviço especial, o qual
inclui até marcação de consulta
por telefone por meio de um aparelho especial.
Os portadores de deficiência
auditiva têm à disposição um telefone público especialmente
projetado para eles segundo normas internacionais. Possui teclado para o surdo digitar suas falas.
A mensagem é recebida por um
intérprete na central da concessionária de telefonia, que a lê para
o ouvinte que recebeu a ligação.
De acordo com a Telefônica, há
200 aparelhos desse tipo no Estado de São Paulo, 50 na capital, a
maioria em escolas especiais. Os
orelhões rebaixados, feitos para
usuários de cadeira de rodas, são
cerca de 8.500.
A televisão é outro ponto discutido no Ministério Público Federal. Há um projeto de lei que obriga a disponibilidade do dispositivo "closed caption", ou a chamada legenda oculta, na programação de TV. O projeto foi aprovado, mas aguarda regulamentação
há cerca de dois anos.
Texto Anterior: O que ajuda na comunicação com quem não ouve Próximo Texto: Oralismo e sinais Índice
|