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Outras idéias
Wilson Jacob Filho
Jogo dos sete erros
Tenho participado de
alguns diálogos muito
interessantes.
- Minha memória
está muito ruim.
- No que ela te atrapalha?
- Em nada. No fim, acabo
lembrando o que realmente
preciso. Além disso, ando com
uma fraqueza!
- No que isso te limita?
- Em muito pouco. Demoro,
mas chego aonde quero. Ah,
meu sono é péssimo.
- Como é o teu despertar?
- Acordo disposto e só vou ter
sono novamente depois da
meia-noite.
E assim vão sendo apresentados muitos sinais e sintomas
que, mesmo em conjunto, não
comprometem o todo.
Nessas horas, lembro-me daquele passatempo em que buscamos avidamente pelas sete
diferenças entre dois desenhos,
entendendo que o primeiro é o
certo, e o segundo, o errado. Se
não estivéssemos tão motivados a encontrá-los, certamente
nem os perceberíamos.
Assim agem aqueles que passam a segunda metade de suas
vidas comparando-a com a primeira. Apontam com ênfase cada diferença, por mais sutil que
seja. Quando conseguem demonstrá-la com evidências, então, chegam à euforia.
Não atentam para o fato de
que pouco compromete a sua
funcionalidade, confrontando
a sua realidade atual com a pregressa, em uma injusta competição com o passado.
Tento, algumas vezes com
sucesso, mostrar que isso faz
parte de uma evolução contínua. Em cada fase do nosso desenvolvimento, ocorrem perdas e ganhos, que, se bem entendidos e aproveitados, permitem atitudes e atividades
muito interessantes.
Não há criança que, aos cinco
anos, durma tanto quanto um
recém-nascido. Nem adolescente que tenha a mesma energia e inquietude que tinha aos
oito anos. Muito menos um jovem com a mesma flexibilidade
de sua adolescência. Nem por
isso entendemos que se tornaram incapazes em cada uma
dessas etapas.
Recomendo que essa mesma
compreensão se estenda por
toda a vida, entendendo quais
as suas reais conseqüências e
planejando as ações em função
dessa nova realidade.
Isso se aplica também aos
efeitos das doenças que ocorrem freqüentemente nessa faixa etária. Não há por que uma
dor articular impedir a prática
de atividades físicas, que são
benéficas para a recuperação
funcional. Nem por que uma
dieta ser obstáculo para a participação em reuniões sociais,
pois há como combinar o bom
relacionamento com as restrições adequadas.
Quem só procurar os seus defeitos não conseguirá reconhecer as suas potencialidades.
[...] Em cada fase do desenvolvimento, ocorrem ganhos e perdas, que permitem atitudes e atividades muito interessantes
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável"
(ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
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