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[+]depoimento
"Tive que me virar"
JAIRO MARQUES
COORDENADOR-ASSISTENTE DA
AGÊNCIA FOLHA
Lá em casa, a regra sempre foi conviver com a molecada, me sentir igual aos
outros, aprender a me virar
e a me preparar para o
mundo mesmo sendo ele
bem despreparado para
mim, como é até hoje.
Apesar de a minha mãe
ter as preocupações básicas de criar uma criança
com deficiência, fui incentivado a criar meios de ser
independente, de encarar
os desafios da falta de acessibilidade e de me preparar
para fazer com que o meu
caráter se impusesse ao
meu aspecto físico.
Nem após as cirurgias
necessárias para minimizar os reflexos da paralisia
infantil -fui vítima dela
aos nove meses-, eu recebia proteção excessiva.
Matar aulas porque estava
usando gesso ortopédico,
nem pensar. Era necessário me reabilitar, mas isso
nunca foi justificativa para
deixar meu preparo de vida
para trás.
Poucas vezes escutava
de algum parente: "Você
não pode ir porque lá é
cheio de escadas e você não
vai se dar bem". Mas foram
vários os incentivos do tipo: "Vai que, com jeitinho,
você consegue. Se não der
certo, você tentou".
Claro que encarar as limitações, sobretudo as severas, é um processo que
gera desconforto, e nenhuma mãe quer que o filho seja vítima de preconceito ou
passe por empecilhos.
Contudo, a proteção não
pode ocultar a realidade a
ser enfrentada. Aprender a
se virar na infância pode
garantir uma vida adulta
com mais desenvoltura,
sem que nos achem cheios
de melindres.
Jairo Marques é cadeirante e autor do
blog http://assimcomovoce.folha.blog.com.br
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