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Ansiedade e depressão podem ser simultâneas
Pacientes demoram anos para procurar ajuda; tratamento perde eficácia quando somente uma das doenças é diagnosticada
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
São imagens que se contrapõem: pelo senso comum, depressão é associada a apatia e tristeza, enquanto ansiedade lembra agitação e nervosismo. Quando o assunto é saúde mental, porém, essa distinção é mais difícil. Depressão e ansiedade são doenças que, paradoxalmente, podem ocorrer simultaneamente. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), os chamados transtornos de
ansiedade antecedem ou sucedem a depressão
ou até coexistem com ela em 70% dos casos,
afirma o psiquiatra Antonio Egidio Nardi,
professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). "Mas freqüentemente os sintomas da ansiedade passam despercebidos."
O diagnóstico incorreto compromete todo o
tratamento. "Trata-se a depressão e agrava-se
a ansiedade ou vice-versa", diz o psiquiatra.
"De uma forma geral, o ansioso teme o futuro, e o deprimido sofre pelo passado", explica
Nardi. Quando as duas doenças coexistem, esses sintomas se misturam. "É aquele deprimido inquieto, agitado, que pode ter crises repentinas de mal-estar", diz o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de
Ansiedade (Amban), do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (SP).
A ansiedade é normal e saudável, pois funciona como estímulo e faz parte do mecanismo de defesa do organismo, auxiliando a pessoa a reagir diante de uma ameaça. O distúrbio psiquiátrico ocorre quando essa sensação
passa a ser exagerada e incontrolável. Em muitos casos, quem sofre de algum transtorno de
ansiedade é "assombrado" por uma apreensão constante, acompanhada por sintomas físicos como taquicardia, náuseas e tremores.
Os distúrbios de ansiedade podem se manifestar de diferentes maneiras, explica o psiquiatra Marco Marcolin, também do IPq. A
mais comum são as fobias, como a claustrofobia (associada a lugares fechados e/ou pequenos), a fobia social (que pode se manifestar
por meio de timidez excessiva) ou medos mais
"específicos", como o de animais.
Outro distúrbio de ansiedade, na síndrome
do pânico, a apreensão aparece repentinamente, associada a pensamentos que paralisam a pessoa. "É como se o paciente entrasse
em choque", diz Marcolin. Já na ansiedade generalizada, a sensação de apreensão é constante. No TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), a pessoa desenvolve comportamentos repetitivos, como lavar as mãos várias vezes por dia. Há ainda o estresse pós-traumático, caracterizado por lembranças recorrentes
de acidentes ou outros traumas.
Apesar de conturbarem a vida do paciente,
muitas vezes esses transtornos levam anos para serem diagnosticados. Estudo da Universidade Harvard (EUA) mostrou que pessoas
com pânico demoram, em média, sete anos
para buscar tratamento psiquiátrico. A espera
sobe para 15 anos na ansiedade generalizada.
De acordo com Bernik, isso acontece porque
elas procuram médicos não especializados,
que, despreparados para identificar a ansiedade, tentam encontrar um problema físico para
justificar os sintomas do paciente. Além de sofrer desnecessariamente, essas pessoas enfrentam o risco de desenvolver depressão.
"Tratar os transtornos de ansiedade é uma
forma de prevenir a depressão", diz ele.
Depressão e ansiedade compartilham a origem: um desequilíbrio químico cerebral que
envolve principalmente a serotonina, neurotransmissor associado à sensação de bem-estar. Outro ponto em comum é a genética. Segundo Nardi, quem tem familiares com síndrome do pânico ou TOC tem 20% de probabilidade de desenvolver um problema semelhante. Na depressão, o risco chega a 25%.
O tratamento da ansiedade pode incluir o
uso de antidepressivos que atuam na síntese
da serotonina e ansiolíticos, que agem como
calmantes. Como complemento, a psicoterapia cognitiva comportamental tem se revelado
eficaz para esses casos.
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