Um dia especial

[...] PROPÔS-SE, POR EXEMPLO, A JOGAR BOLA COM OS BISNETOS, O QUE LHE VALEU UMA QUEDA. CIENTE DAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS, JUSTIFICOU-SE DIZENDO NÃO HAVER PRAZERES SEM RISCOS NA SUA IDADE

Data é a denominação que damos a um dia especial, diferente dos demais. Para muitos, portanto, cada data tem um significado particular.
Para o jovem Giovanni e sua família, esta foi, há 25 anos, a data em que todos começaram a entender melhor a relação entre tempo e desenvolvimento.
Desde então, aprenderam a não apressar o rio, visto que ele corre sozinho. Seu brilho no olhar mostra que o aprendizado foi proveitoso para todos.
Data, em inglês, significa um conjunto de dados, palavra que já faz parte do nosso vocabulário cotidiano nos frequentes "database" ou "datashow". A cada dia fica mais evidente a importância de ter ou de saber transmitir bem a informação.
Data também pode ser um apelido carinhoso de quem foi batizada Anunciata, em homenagem ao Dia da Anunciação, comemorado em 25 de março.
Conheço uma Data que nunca foi Anunciata, que é repleta de dados e informações, que se comunica muito bem e que comemora 90 anos nesta data. Ninguém é, portanto, mais Data do que ela.
Para alguém dessa idade, haveremos de convir, ela beira a excepcionalidade. Soube ser filha, irmã, esposa, nora, cunhada, mãe, tia, avó e bisavó com maestria. Em cada um desses papéis, acrescentou algo ao que dela se esperava. Propôs-se, por exemplo, a jogar bola com os bisnetos, o que lhe valeu uma queda. Ciente das possíveis consequências, justificou-se dizendo não haver prazeres sem riscos na sua idade.
Tendo vivido na época em que a notoriedade foi atributo predominantemente masculino, soube ser notável por intermédio do marido, sem que isso lhe diminuísse a importância.
Tornou-se a referência para a maioria dos temas, desde alegrar as festas tocando piano até a melhor forma de receber.
Exemplo de bom humor, soube usá-lo até para enfrentar as inexoráveis agruras de uma longa vida. A tudo resistiu a confiança em dias melhores.
Quando acometida, há poucos anos, por um acidente vascular que lhe subtraiu parte dos movimentos, quis logo iniciar a reabilitação. Para tal, definiu duas metas: voltar a tocar piano e a dirigir. Já atingiu a primeira.
Da segunda, abdicou-se diante da atual agressividade do trânsito. Em ambas as atitudes, demonstrou perseverança e sabedoria. Atributos de quem já viveu muito e bem.
Quando nos encontramos nas consultas, ela festeja o controle dos parâmetros que avalizam seu excelente estado de saúde. Curiosa, porém, é a sua reação a um resultado alterado dos exames. Assume prontamente a sua responsabilidade e, sem dramas, estabelece uma estratégia para corrigi-los.
Ao me convidar para a comemoração do seu nonagenário, informou que está solicitando a todos que transformem seus presentes em doações anônimas, que ela dará a um asilo. "Infelizmente, existem pessoas com menos idade do que eu para quem este valor terá ainda maior significado."
Assim será, cara dona Data, desde que nos prometa que comemoraremos com a senhora esta data por muitos anos mais.

wiljac@usp.br

Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp


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