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ROSELY SAYÃO
Amor confuso
A mãe de uma menina
de 11 anos está muito
preocupada com o namoro da filha, que já
dura meses. É que a garota contou a ela que o relacionamento
com o namorado, de 15 anos,
está "esquentando". Essa mãe
não sabe mais o que fazer porque já conversou com o casal,
aconselhou, falou de todos os
riscos de uma gravidez fora de
hora. Mesmo assim, parece que
eles não se dão conta da gravidade da situação, já que responderam a ela que "o que tiver de
acontecer acontecerá".
Em outra ponta, a mãe de um
jovem de 21 anos encontra-se
em uma situação parecida. O filho é financeiramente autônomo e decidiu casar-se com sua
namorada, que é a primeira garota com quem se relacionou.
Essa mãe é contra a decisão do
rapaz porque acha que ele deveria ter outras experiências
amorosas e sexuais antes de se
comprometer. Por causa desse
conflito, mãe e filho estão com
a relação bem desgastada.
Essas situações nos mostram
que muitos pais estão confusos
na relação que estabelecem
com os filhos. Por isso pode ser
bem interessante pensar sobre
esse vínculo tão especial.
Os filhos não vêm ao mundo
por vontade própria. Os pais
-ou um deles- quiseram isso,
mesmo que esse querer tenha
sido repleto de contradições.
Uma vez aqui, cabe aos pais, por
causa do amor que a ele dedicam, formar o filho para que ele
possa andar com suas próprias
pernas, ser autônomo.
A questão fundamental no
mundo contemporâneo talvez
seja a de que o amor de muitos
pais pelos filhos tornou-se a
única coisa (ou pelo menos a
mais importante) que conta
nessa relação. E isso muda tudo
na formação dos mais novos.
Quando uma criança pequena, à mercê de seus caprichos,
quer ou não quer qualquer coisa, os pais cedem, mesmo sabendo em tese que não deveriam, porque o amor que sentem pelo filho não permite vê-lo sofrer. Mais crescido, mas
criança ainda, ele quer se comportar como adulto, como a filha de nosso primeiro exemplo.
Os pais cedem porque se sensibilizam com a situação e acabam por acreditar que as coisas
são assim mesmo hoje em dia.
Já com o filho crescido e
amadurecido, prestes a colocar
o pé na vida adulta e pronto para assumir todos os ônus e bônus desse caminho, alguns pais
hesitam em sair de cena porque
isso significa ter de suportar o
afastamento. O amor imenso
que sentem acaba por aprisionar todos nesse laço.
Dessa maneira, o amor desses pais pelos filhos, como se
configura e se materializa na
atualidade, acaba impedindo
que estes reconheçam sua intimidade já que os pais imiscuem-se nela, atrapalha o processo de construção de autonomia deles porque os pais ofertam conforto, em todos os sentidos, em troca de sua proximidade, permite às crianças que
se comportem como adultos e a
jovens adultos que vivam como
crianças porque os pais não suportam a ideia de que seus filhos vivam fora dos contextos
sociais do momento.
Será que o amor dos pais pelos filhos está fora de controle
justamente porque as relações
afetivas entre adultos se tornaram descartáveis e frágeis?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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