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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003
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Pessoas com mais de 60 anos formam um grupo heterogêneo e apresentam um grau de dependência inferior ao que se imagina

Pesquisa derruba mitos sobre idosos no Brasil

Brendan Fitterer/Associated Press
Uma postura positiva em relação ao envelhecimento se traduz em melhor qualidade de vida


LILIANA FRAZÃO
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Hoje, eles já somam mais de 15 milhões de brasileiros, o que corresponde a 9% da população do país e, contrariando velhos preconceitos, não estão presos a uma cama nem "dando trabalho" para os outros. A grande maioria das pessoas com mais de 60 anos, ao contrário do que muitos acreditam, são capazes de cuidar de si mesmas. Quase 30% moram sozinhas ou apenas com o marido ou a mulher da mesma faixa etária, e somente 3,7% queixam-se de incapacidades funcionais significativas.
Esse foi um dos resultados reveladores obtidos pela maior pesquisa sobre a terceira idade já realizada no Brasil, que está sendo apresentada hoje, em São Paulo. Para elaborar o Panorama da Maturidade, foram entrevistadas 1.800 pessoas com 60 anos ou mais em nove regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém) e nas cidades de Brasília e Goiânia.
"Nós sabemos que a população mundial e do Brasil está envelhecendo, mas não conhecemos quem são essas pessoas", afirma o sociólogo Paulo Cidade, gerente de atendimento e planejamento do instituto de pesquisa Indicator, responsável pelo estudo, feito em parceria com a ONG Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento (Cies).
Entre as descobertas da pesquisa, está a constatação de que esse grupo não é homogêneo. "Não há o idoso, mas os idosos", afirma Cidade. Embora haja características e necessidades em comum, a atitude em relação ao envelhecimento é que faz a diferença.
A pesquisa identificou oito grupos. Em um extremo, estão os pessimistas e dependentes, que somam 19,2% dos idosos. "Eles têm uma postura mais negativa diante da vida", diz o sociólogo. Na outra ponta da escala, estão os extrovertidos (15,2%) e os realizados (13,1%), ambos otimistas em relação à vida. Há ainda quatro grupos intermediários, que reconhecem que essa fase da vida exige adaptações e lidam melhor ou pior com o fato.
A pesquisa derruba outros estereótipos. Um deles é a idéia de que os idosos gostam de encontrar-se com "seus iguais", frequentando grupos ou programas especiais para a terceira idade. Na prática, isso não se confirma: apenas 8% dos entrevistados afirmaram fazer isso pelo menos uma vez por mês. Entre os demais, a frequência é ainda menor.
Engana-se também quem acredita que, por ter mais tempo livre, os idosos dedicam-se a atividades voluntárias. Sete em cada dez entrevistados não participam de ações sociais nem querem se envolver com voluntariado.
Se o comportamento pode surpreender, as necessidades são mais previsíveis. Mais de 70% usam medicamentos regularmente, e os problemas de saúde -principalmente as doenças crônicas, como diabetes e hipertensão- são algumas de suas principais preocupações. "Os idosos também querem respeito e um tratamento digno e menos preconceituoso", afirma Cidade.
"Envelhecer ainda possui uma conotação negativa na nossa sociedade", afirma a geriatra Andrea Prates, diretora do Cies. Segundo ela, é necessário disseminar o conceito de envelhecimento ativo. "O envelhecimento deve ser visto como um processo natural, inserido no curso da vida, que é resultado de atitudes, hábitos e experiências vividas antes."


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