|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O meio de comunicação pode causar reações semelhantes
às das dependências químicas nos telespectadores contumazes
Televisão demais faz mal à saúde e pode viciar
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para estudiosos da comunicação ou do comportamento humano, há
uma diferença colossal entre assistir diariamente ao "Discovery
Channel", por exemplo, e a um programa de auditório recheado de closes ginecológicos e/ou cenas de violência. Porém, seja qual for a qualidade do programa, o meio de comunicação, por si só, se consumido em excesso, é capaz de causar grandes estragos. No caso, certas funções orgânicas do telespectador, como as faculdades cognitivas ou até as articulações e a postura, é que são prejudicadas. E mais: a TV, tal qual o cigarro e o
álcool, pode causar dependência.
Assim como o dependente de cocaína tem o impulso de cheirar mais
para manter o estado de euforia, o telespectador contumaz sente necessidade de ficar grudado à TV para
manter a sensação de relaxamento
que o hábito produz. Essa foi a conclusão de um amplo estudo realizado
pelos pesquisadores americanos Robert Kubey, diretor do Centro de Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade
de Claremont.
Para o estudo, a dupla monitorou
as ondas cerebrais, a resistência da
pele e os batimentos cardíacos de voluntários diante da televisão. Sua
principal contribuição foi explicar o
que faz as pessoas se tornarem escravas da televisão.
Quando assiste à TV, a pessoa se
sente relaxada, mas essa sensação se
esvai tão logo o aparelho é desligado.
Porém o estado de passividade e de
diminuição de atenção permanecem.
Mas, claro, a televisão informa, diverte, entre outros atributos. E nem
todo fã da telinha é viciado nela (leia
abaixo os sinais da dependência). Saber como se dá o poder de atração da
TV sobre o telespectador pode ajudá-lo a exercer um controle sobre ela.
Em texto publicado na revista
"Scientific American", a dupla de
pesquisadores afirmou que participantes desse tipo de pesquisa comumente dizem que a televisão chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados, com mais dificuldade em se
concentrar. Muitos, diz o texto, também relatam melhora no humor após
a prática de esportes. Mas, depois de
ver televisão, o humor deles não se altera ou fica pior do que antes. Outra
curiosa constatação da pesquisa:
quanto mais tempo as pessoas passam diante da televisão, menos satisfação elas conseguem obter.
O tempo considerado ideal para
manter corpo e mente ilesos dos danos que o excesso de TV pode causar
é de uma hora diária, em média, segundo diversos estudos. "A média do
brasileiro é de quatro horas e, em São
Paulo, chega a seis horas diárias", diz
Gabriel Priolli, crítico de televisão e
presidente da Associação Brasileira
de TV Universitária. Os europeus dispensam três horas e meia, os americanos, uma hora a mais.
Em entrevista por e-mail ao Equilíbrio, Robert Kubey alerta: "Se você
assiste à televisão por cerca de três
horas por dia, quando chegar aos 75
anos, você terá gastado nove anos inteiros da sua vida vendo TV. E, se
dorme oito horas por dia, terá permanecido acordado apenas 50 dos 75
anos".
Segundo levantamento da ONU,
93% das crianças do mundo têm
acesso à TV. E elas passam pelo menos 50% mais tempo ligadas ao aparelho do que em qualquer outra atividade não-escolar. Entretanto a TV
não pode ser considerada o bicho-papão que "estraga" a criança. "É um
companheiro dela e, muitas vezes,
sua babá. É preciso que os pais limitem seu uso", diz Ana Mercês Bahia
Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Texto Anterior: Capa 25.09 Próximo Texto: Saiba identificar a dependência Índice
|