São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006
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S.O.S. família O que os pais querem para os filhos?
Ouvi, outro dia, um trecho bem
interessante de uma conversa
entre um pai e seu filho de mais
ou menos nove anos, que viajavam ao meu lado. O garoto afirmava ao pai, com convicção, que neste ano ele
queria ser um bom aluno, que queria tirar
boas notas e que não se comportaria do mesmo modo que no ano passado. O pai não levou o assunto adiante, e o menino perguntou
se ele também queria que fosse bom aluno. O
pai devolveu de imediato sua resposta: "O que
importa, filho, não é o que eu quero para você,
mas o que você quer para sua vida". Após essa
intervenção do pai, o garoto emudeceu.
As encrencas que os filhos arrumam que se transformam em problemas a solucionar ou a enfrentar, os pais não conseguem delegar a eles: quase sempre intervêm decisivamente, poupando os filhos dos dissabores das situações nas quais se envolveram. Quem não conhece um caso de pais que tentaram subornar adultos que flagraram seus filhos em situação de contravenção, como fumar maconha? Pois é: tudo o que os pais querem para os filhos, eles realizam ou tentam realizar. Mas os filhos querem também e, sobretudo, que seus pais sejam os depositários iniciais de seus deveres e anseios para que, depois, se tornem seus. Entretanto, isso tem sido bem difícil de os pais bancarem. Por quê? Principalmente porque essa atitude soa, aos pais, como autoritarismo. No exemplo citado no início, o pai disse ao filho que não importava o que ele queria, e sim o que o filho queria. Mas os filhos podem passar a querer determinadas coisas justamente porque os pais querem que ele queira; além disso, os pais precisam também ajudá-los a realizar esse querer, é claro. Ao delegar totalmente ao filho a responsabilidade por querer ir bem na escola e por realizar tal fato, o pai simplesmente se absteve de qualquer responsabilidade diante dessa questão da vida do filho. Aos nove anos, isso é um fardo pesado demais para o garoto. Os pais são os primeiros personagens na vida do filho, e a relação de pertencimento familiar que com ele constroem funciona como origem das imagens que a criança faz dela mesma: isso é identificação. Por que o bebê sorri? Porque percebe que os pais gostam que sorria, não é? Por que uma criança de nove anos pode, devidamente orientado e exigido, ter boa produção escolar? Porque percebe que os pais se orgulham disso. Dizer ao filho "eu quero que você seja assim" ou "quero que faça tal coisa" ou o contrário não é autoritário nem tira a liberdade do filho. É um norte, uma referência que aponta um rumo: o da família. Na maturidade, o filho irá encarar essa direção como uma opção de escolha, entre outras tantas que descobrirá por conta própria. Isso é liberdade, coisa, aliás, para gente grande e responsável. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) @ - roselysayao@folhasp.com.br Texto Anterior: Poucas e boas Índice |
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