São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004
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Hipertenso ignora a própria doença

ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro consome diariamente mais do que quatro vezes a quantidade de sal considerada segura por órgãos de saúde do mundo inteiro, visando a prevenção da hipertensão. Nos Estados Unidos, é consenso que a ingestão de sal não deve ultrapassar 3,8 g por dia (meia colher de chá, aproximadamente). Aqui, a média de consumo é de 15 g diárias; na região Nordeste, chega a 20 g por dia.
Os números nacionais foram divulgados na semana passada, durante o 20º Congresso Mundial de Hipertensão, que reuniu, em São Paulo, 2.500 especialistas de todo o mundo. A recomendação dos especialistas brasileiros para hipertensos e para quem tem predisposição à pressão alta é ingerir, no máximo, 6 g de sal por dia. A diferença entre a orientação americana e a brasileira, diz o nefrologista Décio Mion, da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas, de São Paulo, ocorre porque aqui levou-se em conta a quantidade de sal própria dos alimentos. "Mesmo sem adicionar sal na comida, o brasileiro já consome de 2 g a 3 g diariamente."
São 27 milhões de hipertensos no Brasil, o que corresponde a 25% da população adulta, diz Mion. Mas a maioria não sabe que tem a doença, também conhecida como o "assassino silencioso", pois pode ser assintomática por anos. Por isso, a discussão mais importante aqui é sobre como fazer o hipertenso aderir ao tratamento, o que não ocorre nem quando ele é médico.
No ano passado, Mion coordenou um estudo sobre a forma de os médicos do HC lidarem com a sua pressão arterial. O resultado é alarmante: mais da metade (60%) dos que sabiam ter pressão alta não se tratava. "Apesar de saberem muito bem os riscos do problema, simplesmente ignoravam a pressão alta. O que podemos concluir é que a falta de controle da pressão não é inerente a condições financeiras e ao conhecimento. Não sabemos quais os fatores determinantes da não-adesão ao tratamento e do controle, mas o estudo mostrou que não é a classe social que determina isso."
Outro estudo divulgado no encontro analisou o consumo diário de álcool entre os cidadãos da Bahia. "Mais de 30 g de álcool por dia podem fechar vasos sangüíneos e elevar a pressão arterial", diz Mion, sobre a principal causa de hipertensão entre homens. Pois os cidadãos de Salvador bebem pouco em relação a europeus ou australianos. Não chegaram a atingir a dose máxima considerada segura -uma dose de uísque, duas taças de vinho ou uma garrafa de cerveja.
Para quem já tem a doença, as pesquisas confirmam a necessidade de acrescentar exercícios físicos ao tratamento. Um estudo coordenado pelo fisiologista e diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular do Incor (Instituto do Coração), Carlos Eduardo Negrão, indicou que uma sessão de atividade física com intensidade leve ou moderada, como correr, nadar ou andar de bicicleta, realizada durante 40 minutos, reduz e mantém a pressão arterial por 24 horas. A boa notícia: "Conforme o paciente adere aos exercícios, reduz a necessidade de tomar medicamentos, pois a pressão diminui", afirma Negrão.


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