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SAÚDE
Nem quente nem frio
Entre 20% e 30% da população sofre de hipersensibilidade nos dentes; escovação brusca, fumo e consumo de bebidas ácidas, entre outros fatores, podem agravar o problema
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURÍCIO HORTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nem chocolate quente
no inverno nem sorvete no verão. Quem
sofre de hipersensibilidade dentinária é obrigado a
passar longe dos dois extremos
para evitar o desconforto.
Especialistas observam um
aumento de reclamações sobre
sensibilidade dos dentes, um
problema que atinge de 20% a
30% da população, segundo estudos realizados em diversas
partes do mundo. Um trabalho
brasileiro, feito pela Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) com 202 pacientes,
mostrou que 28% deles sofriam
de sensibilidade dentária. "Pesquisas apontam uma prevalência que varia de 4% a 74% nos
grupos estudados. O frio é o que
mais causa dor. Depois vêm os
alimentos quentes e os doces",
explica Antônio Wilson Sallum,
professor de periodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp.
A exposição da dentina (camada do dente protegida pelo
esmalte) é a causa do incômodo
-e pode ocorrer por fatores variados. Os túbulos dentinários
(canais preenchidos com líquidos, que ficam dentro da dentina), quando estão "desprotegidos", são suscetíveis a estímulos como o calor ou o frio, que
levam à dor.
Para Elói Dezan, coordenador do curso de odontologia da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) de Araçatuba, a redução de outros problemas bucais, como a cárie, cuja prevalência diminuiu drasticamente
nos últimos anos, ajudou a aumentar o enfoque na dor causada pela hipersensibilidade.
Mudanças de hábitos alimentares também contribuem
significativamente para a
maior frequência da hipersensibilidade. O maior consumo de
bebidas ácidas, como refrigerantes, sucos de frutas cítricas e
molhos para salada à base de vinagre contribui para o desgaste
dos dentes e expõe partes sensíveis do dente. Para evitar o
problema, é preciso, além de
reduzir o consumo desses alimentos, esperar ao menos 30
minutos para escovar os dentes
depois de ingeri-los.
O fumo também é relacionado à hipersensibilidade dental.
No estudo da Unicamp, por
exemplo, fumantes mostraram
3,5 vezes mais chance de apresentar hipersensibilidade em
comparação aos que não fumavam. Escovação brusca, doenças periodontais, retração gengival, má-oclusão, traumas e
bruxismo também podem expor a dentina e causar dor.
As pastas de dentes específicas para dentes sensíveis funcionam localmente, vedando
superficialmente a área exposta que causa dor. "Os produtos
disponíveis são muito bons,
com grau de eficiência que varia de 30% a 90%. Em geral, resolvem 80% dos casos", afirma
Sallum. No entanto, seu efeito é
temporário: se a pasta não for
usada de forma constante, a
sensibilidade pode voltar.
Outro empecilho para a eficácia da pasta é não alterar o fator que causou o problema. Se o
paciente continua a ingerir alimentos ácidos ou mantém a escovação brusca, a pasta não
consegue anular o trauma.
No consultório
Com mecanismos de proteção semelhante aos da pasta, o
dentista também pode fazer
aplicação de um dessensibilizante no consultório, produto
com concentrações mais altas
do princípio ativo usado nos
cremes dentais. O tratamento
também tem duração limitada.
Já casos de retração gengival
podem ser tratados com aplicação de laser de alta intensidade,
de neodímio, apropriado para
esse caso. Ao ser aplicado, provoca uma espécie de derretimento leve do esmalte, "soldando" a superfície exposta. O
efeito é definitivo, desde que
não haja um novo afastamento
da gengiva.
Em último caso, quando,
além da retração gengival, há
erosão do dente, o dentista pode avaliar a necessidade de uma
restauração. "Em todos os casos, o principal objetivo é obstruir a parte exposta do dente,
seja de maneira química, como
as pastas, seja física, como a
restauração", explica a periodontista Idelana Lopes.
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