São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
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SAÚDE

Nem quente nem frio

Entre 20% e 30% da população sofre de hipersensibilidade nos dentes; escovação brusca, fumo e consumo de bebidas ácidas, entre outros fatores, podem agravar o problema

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

MAURÍCIO HORTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nem chocolate quente no inverno nem sorvete no verão. Quem sofre de hipersensibilidade dentinária é obrigado a passar longe dos dois extremos para evitar o desconforto.
Especialistas observam um aumento de reclamações sobre sensibilidade dos dentes, um problema que atinge de 20% a 30% da população, segundo estudos realizados em diversas partes do mundo. Um trabalho brasileiro, feito pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com 202 pacientes, mostrou que 28% deles sofriam de sensibilidade dentária. "Pesquisas apontam uma prevalência que varia de 4% a 74% nos grupos estudados. O frio é o que mais causa dor. Depois vêm os alimentos quentes e os doces", explica Antônio Wilson Sallum, professor de periodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp.
A exposição da dentina (camada do dente protegida pelo esmalte) é a causa do incômodo -e pode ocorrer por fatores variados. Os túbulos dentinários (canais preenchidos com líquidos, que ficam dentro da dentina), quando estão "desprotegidos", são suscetíveis a estímulos como o calor ou o frio, que levam à dor.
Para Elói Dezan, coordenador do curso de odontologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araçatuba, a redução de outros problemas bucais, como a cárie, cuja prevalência diminuiu drasticamente nos últimos anos, ajudou a aumentar o enfoque na dor causada pela hipersensibilidade.
Mudanças de hábitos alimentares também contribuem significativamente para a maior frequência da hipersensibilidade. O maior consumo de bebidas ácidas, como refrigerantes, sucos de frutas cítricas e molhos para salada à base de vinagre contribui para o desgaste dos dentes e expõe partes sensíveis do dente. Para evitar o problema, é preciso, além de reduzir o consumo desses alimentos, esperar ao menos 30 minutos para escovar os dentes depois de ingeri-los.
O fumo também é relacionado à hipersensibilidade dental. No estudo da Unicamp, por exemplo, fumantes mostraram 3,5 vezes mais chance de apresentar hipersensibilidade em comparação aos que não fumavam. Escovação brusca, doenças periodontais, retração gengival, má-oclusão, traumas e bruxismo também podem expor a dentina e causar dor.
As pastas de dentes específicas para dentes sensíveis funcionam localmente, vedando superficialmente a área exposta que causa dor. "Os produtos disponíveis são muito bons, com grau de eficiência que varia de 30% a 90%. Em geral, resolvem 80% dos casos", afirma Sallum. No entanto, seu efeito é temporário: se a pasta não for usada de forma constante, a sensibilidade pode voltar.
Outro empecilho para a eficácia da pasta é não alterar o fator que causou o problema. Se o paciente continua a ingerir alimentos ácidos ou mantém a escovação brusca, a pasta não consegue anular o trauma.

No consultório
Com mecanismos de proteção semelhante aos da pasta, o dentista também pode fazer aplicação de um dessensibilizante no consultório, produto com concentrações mais altas do princípio ativo usado nos cremes dentais. O tratamento também tem duração limitada.
Já casos de retração gengival podem ser tratados com aplicação de laser de alta intensidade, de neodímio, apropriado para esse caso. Ao ser aplicado, provoca uma espécie de derretimento leve do esmalte, "soldando" a superfície exposta. O efeito é definitivo, desde que não haja um novo afastamento da gengiva.
Em último caso, quando, além da retração gengival, há erosão do dente, o dentista pode avaliar a necessidade de uma restauração. "Em todos os casos, o principal objetivo é obstruir a parte exposta do dente, seja de maneira química, como as pastas, seja física, como a restauração", explica a periodontista Idelana Lopes.


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