São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002
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drible a neura

Festinhas na escola podem ser pesadelo

PALOMA VARÓN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Existe uma maneira bem fácil de fazer com que um evento social se torne um transtorno: obrigar os convidados a comparecer. Afinal, ninguém gosta de ser "arrastado" para uma comemoração. É por isso que muitos pais ficam arrepiados quando os filhos falam a fatídica frase: "Tem festa na escola no sábado!". Antes restritos a ocasiões especiais, os compromissos dentro dos muros escolares têm aumentado bastante, porque muitos colégios estão valorizando a participação dos pais. "Fazemos esses eventos para que os pais, por exemplo, vejam a produção dos filhos", explica Wanilda Tieppo, assistente de direção da Escola da Vila, que não comemora datas como Dia dos Pais, mas promove eventos e festas de integração. "Para nós, é importante a socialização do conhecimento." Mesmo concordando que participar é importante, muitos pais criticam esses eventos. "Às vezes, é um "porre", a escola não percebe que a gente não tem tempo ou não está a fim de fazer certas coisas", diz a produtora Rosângela Carmona, que tem uma filha de 11 anos. Para ela, a duração dos eventos é excessiva, e a expectativa criada nas crianças, desnecessária. "A gente passa por mãe relapsa. Muitas vezes tenho de trabalhar nos finais de semana e não posso ir." Os compromissos escolares que envolvem a família não são consenso nem entre os educadores. "Acho meio ridículo, parece uma prestação de contas meio hipócrita por parte das escolas", afirma José Aquino, professor de psicologia da educação da Faculdade de Educação da USP. "Não vejo razão para essas comemorações; do ponto de vista pedagógico, elas são inócuas." Nem todos os pais encaram os eventos como obrigação. Cláudio Kishimoto diz que os eventos promovidos pelo colégio de suas duas filhas nunca foram um transtorno. "Já chamaram os pais para jogar com os filhos em competições. Não é problema, é até gostoso."

Exposição
Jogos e outras participações mais ativas, porém, são as que costumam causar mais embaraços. A gerente de marketing Michele Liu, mãe de duas crianças, sentiu-se constrangida quando, numa comemoração de Dia das Mães, pediram às homenageadas que participassem de uma gincana. "Às vezes, as escolas não sabem interpretar o pique de cada mãe. Ficou uma situação chata; para mim, foi um "mico"." Carmona também não fica à vontade nessas situações. "Eu me sinto meio exposta quando pedem a nós, pais, que façamos ginástica ou dança", diz. Faltar a esses eventos pode evitar o constrangimento, mas cria outro problema: a frustração do filho. A professora aposentada Maria Benvinda Nakashima, mãe de uma garota de dez anos, conta que uma vez, numa apresentação da classe de sua filha, um menino chorou porque os pais não puderam ir. "Eles criam muita expectativa nas crianças, e eu acho que ele se sentiu meio abandonado", diz. O Colégio Visconde de Porto Seguro criou o Dia da Família exatamente para evitar que as crianças fiquem tristes quando os pais não podem ir às festas do Dia das Mães ou dos Pais. "A presença dos pais não é exigida, mas procuramos sempre envolver a família na nossa programação de eventos", afirma Celina Cattini, diretora da unidade 1 do colégio. "As escolas acabam criando uma demanda que deixa os pais numa situação complicada: se fazem, são meio idiotas; se não fazem, são pouco colaboradores", afirma Aquino, que acha fundamental que os pais discutam com a escola a participação em eventos desse tipo. Para a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão, a negociação começa em casa. "O pai pode explicar ao filho que participa da vida escolar dele de outra maneira", sugere ela. Já Maria Angela Carneiro, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP e ex-diretora de colégio, acha que a participação dos pais é fundamental do ponto de vista educacional. "Isso cria uma parceria entre pais e filhos que é muito salutar quando a criança chega à adolescência, por exemplo", explica. O diálogo é o caminho para evitar desgastes desnecessários. "Minha sugestão é que os pais digam à escola como podem colaborar e que a escola consulte os pais sobre como eles podem se integrar no processo escolar", afirma Carneiro.


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