São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002
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coluna social

Tapetes-cartoon bordados na favela

O artista plástico Tomi Roman, 46, transforma a vida de moradoras da favela do Indaiá, na praia de Bertioga, litoral norte de São Paulo, com a arte de fazer tapetes. Entre os clientes famosos, conta o artista, estão o diretor global Jorge Fernando e o publicitário Nizan Guanaes. A peça mais famosa -Mapa do Brasil- já foi exposta na trienal de Milão no ano passado.
    Tudo começou como um hobby. "Falava para os meus pais que estava pensando em fazer uns tapetes diferentes, meu pai me olhava e bufava. Já imaginava que seria uma linguagem pop, um tipo de cartoon!", diz Roman. A idéia ficou engavetada até ele resolver fazer uma cirurgia plástica no queixo. Como teria de ficar dois meses sem sair de casa, decidiu aproveitar o tempo para aprender a fazer os tais tapetes. Foi atrás da técnica ideal para realizar com perfeição desenhos cheios de detalhes e descobriu a "smirna", técnica turca milenar das mais difíceis, raras e trabalhosas. "Meu primeiro tapete foi uma tira de história em quadrinhos. No fim, acabei desistindo da operação, mas aí já estava fazendo tapetes."
    Empresário falido do ramo de confecção, Roman não perdeu o rebolado: mudou-se para a praia de Bertioga e foi bordar para sobreviver. "Não conseguia parar, fazia uns riscos, colocava cor, e ia surgindo um desenho."
    Em Bertioga, tomou conhecimento da Amori (Associação de Moradores do Indaiá), que trabalha com moradores da favela do bairro. "Falei com a coordenadora sobre a minha vontade de trabalhar profissionalmente fazendo tapetes e que não tinha mão-de-obra. Convidado por ela, comecei a dar um curso da técnica "smirna" para umas 15 mulheres. Hoje são todas minhas amigas", diz ele.
Como prova de amizade, Roman largou o seu hobby para divulgar o trabalho das artesãs. Para começar, entrou no ateliê Companhia dos Tapetes Ocidentais, que trabalhava com artistas como Tomie Ohtake e Ivaldo Granato. "A primeira coisa que pensei foi montar uma cooperativa porque tudo é importante no processo, não acho quem desenha melhor. Ainda não somos uma cooperativa, pois o volume de trabalho é pequeno. Agora a situação está difícil, a gente se junta para rezar para poder trabalhar mais", diz Roman. Mesmo assim, as artesãs ganham mais trabalhando com ele do que nos empregos disponíveis na praia.
    O processo de trabalho começa com a criação do desenho de algo que funcione no chão, ou seja, que ofereça leitura de todos os lados. Os modelos variam: há Túnel do Tempo, Tabuleiro do Banco Imobiliário, Sandálias Havaianas, Mapa do Brasil e Band-Aid. "É um trabalho popular, tem uma aceitação geral, mas infelizmente tem um custo final alto." Os preços variam de R$ 800 a R$ 3.000.


Os tapetes podem ser encontrados nas lojas Projeto Terra, no shopping Villa-Lobos, tel. 0/xx/11/3021-7873; e Ponto e Filo, tel. 0/xx/11/3061-1412. Para encomendas: tel. 0/xx/13/3313-1204 ou www.tomiroman.hpg.com.br.


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