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ROSELY SAYÃO
Dificuldades para aprender
Neste fim de ano letivo, muitos pais se
preocupam com o
rendimento passado
do filho. Há os que ficam bravos
com baixas notas, recuperação
ou mesmo reprovação. Mas há
os que ficam apreensivos porque ouvem dos professores que
seu filho apresenta dificuldades de aprendizagem.
Deveríamos abolir essa expressão quando nos referimos
à vida escolar das crianças -e
temos motivos para tanto. O
principal deles é que, por trás
dessa frase, há uma multiplicidade de sentidos sem muita
coerência entre si.
Alunos com ritmos de aprendizagem diferentes dos de seus
colegas, alunos dispersos, alunos com estilos específicos de
aprendizagem, entre outros,
costumam receber o diagnóstico de "dificuldade de aprendizagem" para justificar o baixo
rendimento escolar.
Como entender essa expressão maldita? Vamos nos aventurar na missão possível de desconstruir essa frase tão usada.
O primeiro passo é aceitar a
ideia de que todos temos dificuldades de aprendizagem. Por
quê? Ora, porque aprender é
trabalhoso e difícil e exige um
reconhecimento fundamental:
o de que não se sabe. Só pode
começar a aprender quem admite que não sabe. E talvez um
dos grandes problemas que
crianças e jovens do mundo
atual enfrentam seja esse.
Tem sido cada vez mais difícil para eles admitir que não sabem, que não conhecem, porque isso angustia e incomoda.
E, em tempos de aparências,
precisamos mostrar que sabemos muito, não é? Os mais novos logo percebem esse clima e
o incorporam em suas vidas.
A questão é que lidar com a
angústia de não saber não é fácil, então a melhor saída tem sido rejeitar tal estado. E isso gera dificuldade de aprendizagem, já que essa angústia é o
que dispara o aprendizado.
Quem tem filhos pode constatar esse fenômeno da recusa
do desconhecimento ao observar quantas vezes as crianças
repetem a frase "Eu sei, mãe"
ou "Eu já conheço, pai".
O segundo passo para desconstruir a frase "dificuldades
de aprendizagem" é o de reconhecermos também que o
mundo nos leva a sermos hiperativos e dispersos. Ora, isso gera dificuldades para aprender,
já que esta é uma atividade que
exige concentração, esforço e
dedicação -mesmo que temporária- a uma única coisa.
Além disso, os obstáculos
que surgem têm sido vistos como impedimentos, e não como
desafios, por isso preferimos
contorná-los a enfrentá-los.
Isso, sim, é um problema para muitas crianças do mundo
atual: parar, aquietar-se, lidar
com a angústia de não saber, se
concentrar, perseverar para,
então, aprender.
Por isso e por muito mais, em
vez de pensar nas "dificuldades
de aprendizagem", seria mais
produtivo lhes oferecer meios
para que se desenvolvam e ponham em prática seu potencial.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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