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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003
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A bebida possui ação digestiva e diurética, mas os benefícios para a estética e o rejuvenescimento não foram comprovados

Chá verde faz bem para a saúde, mas não faz milagre

LAURA DINIZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Primeiro, foram os "sushis", os "sashimis" e os temperos à base de "shoyu". Agora é a vez do igualmente oriental chá verde se popularizar no Brasil. Mais que o sabor bem amargo, o que tem seduzido os brasileiros são as qualidades medicinais atribuídas a essa bebida, consumida avidamente por japoneses e chineses há centenas de anos. Pegando carona no aumento do interesse e do consumo, até a indústria de cosméticos resolveu transformar o chá verde em ingrediente.
Antes restrito às lojas de produtos naturais, o chá verde já é facilmente encontrado nos supermercados -ao natural e até em versões com sabor, como pêssego, laranja e menta. Preferido dos chineses, o chá verde tem a mesma origem do seu vizinho de prateleira, o chá preto. Os dois e também o "ban chá", consumido mais pelos japoneses, são produzidos a partir da planta Camellia sinensis.
É a preparação das folhas para o consumo que os diferencia, explica o médico Mauro Perini, professor do curso de pós-graduação em medicina chinesa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Folhas obtidas na primeira fase da desidratação dão origem ao chá verde. O "ban chá" é feito com folhas que passam por duas etapas de desidratação. Já o chá preto é resultado de folhas totalmente ressecadas e aquecidas em forno.
De acordo com Perini, quanto mais desidratada é a folha, mais forte é o sabor da bebida. A propriedade principal dos três chás, explica ele, é a mesma: melhorar a digestão, equilibrando as funções estomacais. "A maioria dos orientais toma o chá verde antes das refeições, preparando o organismo para receber os alimentos", diz o médico.
Como especialista em medicina chinesa, Perini orienta seus pacientes a adotarem o mesmo hábito, ingerindo uma xícara de chá verde antes do almoço -a principal refeição do dia para os orientais.
Essa quantidade, segundo o médico, é suficiente para que o chá surta o efeito desejado. Exagerar, como sempre, não é uma boa opção, especialmente se a pessoa tiver problemas estomacais.
"Como o chá verde tem muita cafeína, eu peço a meus pacientes que têm gastrite que evitem tomá-lo", afirma o médico Hong Jin Pai, do Centro de Dor do Hospital das Clínicas (SP). Pessoas que sofrem de úlcera e esofagite de refluxo também devem passar longe da bebida, segundo o gastroenterologista Luis Cláudio Alfaia, da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
A nutricionista Joselaine Stürmer, autora do livro "Comida: um Santo Remédio" (ed. Vozes), dá a receita para evitar a concentração de cafeína na bebida: uma colher de sopa, rasa, de folhas para cada litro de água. As folhas devem permanecer em infusão por dois a três minutos, e o chá deve ser consumido quente ou em temperatura ambiente, sem açúcar nem adoçante. Segundo ela, o chá perde grande parte de suas propriedades ao ser adoçado ou refrigerado.
Em seu livro, a nutricionista incluiu o chá verde na lista dos dez alimentos mais importantes na dieta diária e sugere beber de duas a quatro xícaras por dia. Ela afirma que, por conter substâncias antioxidantes chamadas polifenóis, a bebida é excelente para "limpar" o fígado, órgão que filtra as toxinas ingeridas na alimentação. "O chá verde também ajuda em processos de emagrecimento, porque é um pouco mais diurético que os outros", diz.
Para driblar o gosto amargo da bebida, Stürmer sugere bebê-la com canela ou algumas gotas de limão. Trocar a preparação convencional por cápsulas de chá verde não é uma boa opção, diz Perini. Segundo o médico, muitas cápsulas não são feitas com o extrato da planta -que é purificado- e podem estar contaminadas com fungos.


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