São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002
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S.O.S. família
rosely sayão

Libere a agenda dos seus filhos nas férias

No final do semestre escolar, muitos pais aproveitam a oportunidade para avaliar a relação do filho com a escola no período que findou: qual foi o aproveitamento dele, as deficiências, a organização ou a desorganização com os deveres, se deu a devida importância aos estudos etc. E muitos ficam tentados a aproveitar as férias para premiar ou castigar o filho, dependendo da maneira como ele se conduziu em suas responsabilidades, ou a usar esse período para que o filho recupere o tempo que folgou e não deu conta dos estudos. Isso é uma bobagem e um equívoco. E pode acabar surtindo efeito contrário ao almejado.
As férias são um período que crianças e adolescentes precisam -e devem- desfrutar com liberdade, sem rotina e, principalmente, sem cobranças. Férias é para isso: para curtir.
A vida das crianças hoje é lotada de compromissos: hora para levantar, para chegar à escola, para voltar para casa e almoçar, para se reunir com os colegas e fazer o trabalho da escola, para as aulas de idiomas, para o esporte etc.
Não é à toa que a criançada já anda com agenda, pois é preciso mesmo uma -ou a cabeça da mãe- para conseguir ter rumo diante de tantos afazeres. Bem, talvez seja uma característica do nosso tempo essa rotina estafante já na infância. Mas, se tem de ser assim ou se os pais acham que é melhor que seja assim, então as férias são mais do que necessárias: elas servem para que a criança ou o jovem se alivie e possa, então, dedicar-se a coisas que ache mais interessantes. Mas os pais devem estar preparados: nada mais interessante, para muitos deles, do que não fazer nada, do que passar horas na frente da televisão, do computador ou do videogame, do que arrumar confusão. É preciso ajudá-los um pouco nesses dias e proporcionar, sempre que possível, atividades inovadoras, diferentes.
Isso não significa, necessariamente, trabalho dobrado para os pais. Mais dedicação, sim, já que a convivência com os filhos nesse período fica forçosamente ampliada. Mas o que não vale é usar estratégias para fugir disso: enviar os filhos para acampamento, matriculá-los em cursos de férias ou coisa que o valha. Esses só devem ser recursos considerados se o filho manifestar interesse por eles.
E se os pais trabalham e não podem dedicar mais tempo aos filhos? Bem, sempre é possível encontrar um tempinho em meio aos afazeres, mas isso só acontece se os pais priorizam as férias dos filhos e dão a devida importância a esse período na vida deles. Depois de tomada essa decisão, não é difícil relaxar um pouco para relevar alguns comportamentos deles durante as férias. Assim, os filhos têm a grande oportunidade de se relacionar com um lado dos pais que nem sempre eles têm disponível: o lado do relacionamento sem as cobranças de sempre. Essa pode ser uma grande descoberta para eles.
Do mesmo modo, é assim que os pais também podem encontrar, sem grandes dificuldades, o que fazer com os filhos que não seja o comum, o usual, sem precisar promover viagens fantásticas ou atividades espetaculares. Conheço pais, por exemplo, que nas férias de julho planejam piqueniques no chão da sala na hora do jantar, que escrevem um livro com os filhos, que organizam em grupo o álbum de fotografia da família -aliás, uma ótima oportunidade para situar o filho em seu grupo familiar, relembrando histórias engraçadas de tempos que a criança já viveu e de que nem se lembra mais, e também para reafirmar o afeto familiar.
É assim -às vezes reclamando, às vezes se divertindo, às vezes descansando, às vezes provocando os pais, mas, de todas as formas, aproveitando ao máximo as férias como algo que é seu- que a criança e o jovem podem, terminado o período, voltar a frequentar a escola com a energia reposta. Mas estudar durante as férias não! A não ser que eles queiram. E, certamente, eles não querem, do mesmo modo que os pais não querem -nem devem- trabalhar em suas merecidas férias.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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