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S.O.S família
Rosely Sayão
Educação profissional
No mundo atual, educar transformou-se
numa tarefa essencialmente profissional. Não me refiro aos profissionais da educação que atuam
em escolas com teorias e metodologias. Falo dos pais e de sua
responsabilidade de educar no
convívio familiar.
Hoje há uma profusão de
profissionais de todas as áreas
que ofertam suas opiniões aos
pais. Dos profissionais da saúde
aos da economia, todos acreditam ter contribuições imprescindíveis a dar.
"Assim fica difícil", reclamou
uma leitora, referindo-se aos
temas tratados nesta coluna.
Segundo ela, os profissionais
criaram um movimento de
apontar aos pais todos os erros
cometidos. "Não importa o que
façamos, estamos sempre errando. Educar é uma tarefa impossível sem que os pais leiam
os manuais profissionais."
A leitora tem razão. Dos cuidados com os dentes à chamada
educação financeira, há vários
tratados sobre como proceder
com os filhos. Não há dúvida
nenhuma de que vivemos na
era profissional. E, se os pais,
mesmo assim, não conseguem
resolver as dificuldades que os
filhos lhes impõem, não há problema. Há, também, uma oferta
enorme de profissionais que se
propõem a tratar daquilo que
os pais não dão conta.
Mas como surgiu espaço para
tanta oferta? Entre tantas possíveis causas que colaboraram
para criar esse fenômeno, há
uma importante: o vazio que os
pais criaram ao abandonar o lugar de autoridade que precisariam ocupar para dar corpo e
consistência à tarefa educativa.
Hoje muitos hesitam em
ocupar esse lugar. Tenho um
amigo que diz que, tanto na
educação familiar quanto na
escolar, quem ocupa com responsabilidade o lugar de autoridade é acusado de ser autoritário. Mas há uma grande diferença entre usar o poder para
educar e abusar desse poder.
O fato é que, com tantas
preocupações com a própria vida, os pais preferem delegar sua
responsabilidade a quem lhes
pareça mais competente. É
nesse quadro que fazem enorme sucesso programas como
"Supernanny".
Acontece que muitos pais foram seduzidos pela idéia de que
educar é uma tarefa operacional que visa preparar os filhos,
em termos de habilidades e
competências, para enfrentar o
futuro que os aguarda. Mas a
educação familiar é de outra ordem. É no convívio familiar que
se educam os filhos. São os costumes, as tradições do grupo e
os rituais que dão sentido à vida
para crianças e jovens. São as
virtudes pessoais valorizadas e
a moral seguida pelo grupo familiar que ajudam a formar
crianças e jovens. E é, sobretudo, a palavra o instrumento que
permite aos pais educarem.
Mas, na era do PowerPoint, a
palavra caiu em desuso, e, em
tempos de correria sem fim, o
convívio entre os integrantes
da família ficou escasso. O que
dizer do diálogo, então? E não
me refiro a essa conversa que os
pais têm com os filhos na tentativa de convencê-los a obedecer
porque obediência não se convence, se impõe. Refiro-me ao
ato de trocar idéias, de contar e
de ouvir histórias, de realizar
embate de opiniões.
Hoje pais e filhos quase não
se falam. Há mais instruções,
recomendações e reclamações
do que conversas. As pessoas
estão mais propensas a concordar com as idéias ou a discordar
delas do que a conhecê-las, e as
regras fazem muito mais sucesso do que os princípios.
Vivemos na era da objetividade, da tecnologia e da persuasão. É por isso que muitas
idéias (como algumas de que
trato aqui) são encaradas como
conselhos ou como acusações.
Mas são apenas idéias, que podem ser conhecidas, apreendidas e recriadas. A incumbência
maior dos pais é contar aos filhos como é esse mundo que
eles habitam e como vive a família a que eles pertencem. E
isso exige disponibilidade e responsabilidade acima de tudo.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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