|
Texto Anterior | Índice
ROSELY SAYÃO
Juventude medicada
Eduardo é um garoto
de dez anos que adora
ir à escola, mas não
gosta de estudar. As
delícias da escola, para ele, estão na chegada, no recreio e na
volta para casa. Já as aulas são
um martírio. O problema é que
Eduardo não consegue parar,
tampouco prestar atenção. O corpo de Eduardo o controla.
Ele não aprendeu que pode
controlar seu corpo e que precisa se esforçar para focar a atenção e aprender. Então ele brinca, fala e pula o tempo todo.
A mãe de Eduardo não se
conforma com as notas baixas e
com as constantes reclamações sobre seu comportamento.
"Ele é um aluno inteligente,
mas é hiperativo", disse um dia
sua professora. Eduardo foi levado a vários médicos que disseram à mãe que o garoto nada
tinha. Mas ela não desistiu até
encontrar um que dissesse que
Eduardo é portador do transtorno de deficit de atenção com
hiperatividade (TDAH) e indicasse uma medicação. Hoje, o
menino toma um remédio e isso deixa todos os adultos que
convivem com ele tranquilos.
Claudia é uma adolescente de 15 anos com um tipo físico que ela chama de "cheinho": ela
não é magra como se exige atualmente nem consegue ser.
As amigas são bem magras e, na visão de Claudia, fazem sucesso com os garotos por causa disso.
A garota sofre e está sempre
triste. A mãe a colocou para fazer terapia, mas isso já faz um
ano e a menina continua triste.
Então, alguém disse à mãe que
levasse a filha a um psiquiatra.
Ela não consultou um, mas vários. No fim da jornada, conseguiu o que buscava desde o início: a indicação de um antidepressivo. Hoje Claudia toma
um comprimido por dia e sua
mãe está bem mais feliz.
Paula e Ricardo são amigos.
No ano passado, fizeram cursinho enquanto terminavam o
segundo grau para prestar vestibular em uma universidade
concorrida. Apesar de a família
dos dois jovens não pressionarem, eles próprios se pressionaram além da conta porque
queriam entrar na faculdade
neste ano a qualquer custo.
Isso gerou uma ansiedade
sem tamanho nos dois: palpitações, crise de choro, desânimo,
irritação excessiva e insônia,
entre outros, foram sintomas
que se alternaram e transformaram a vida dos dois jovens
em um inferno. O ginecologista
da garota receitou um ansiolítico e ela indicou o remédio para
o amigo. Até hoje os dois tomam o comprimido.
Rafael é um jovem com pouco mais de 20 anos, fanático por
musculação e escultura do corpo. Na academia, aprendeu que
podia facilitar o trabalho tomando anabolizante, que ele já
indicou para vários conhecidos.
Está feliz com os resultados.
Os nomes citados são fictícios, mas as histórias, reais. E,
ao contrário do que possamos
pensar, não são casos isolados.
Tomar medicamentos na infância e na adolescência tem sido um fato muito mais corriqueiro do que deveria ser.
Pelo jeito, estamos estimulando a formação de uma geração de drogadictos -pessoas
com dependência, física ou psíquica, de substâncias químicas- usuários de remédios. E
nos preocupamos tanto com o
uso das drogas ilícitas pelos jovens, não é verdade?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
BATE-PAPO
"Mais um texto de qualidade ímpar da grande
Rosely Sayão ("Separação", ed. de 21/1). Se existisse o bom senso, as varas de família não estariam repletas de processos, e as crianças, com
certeza mais que absoluta, não sofreriam tanto
com a desculpa de "excesso de zelo" por parte de
um dos genitores."
RONALDO SEPICAN
"Considero oportunas as colocações sobre
separação. É mesmo necessário muita maturidade para tal enfrentamento. As pessoas se acomodam em seus "confortos", que nem são tão
confortáveis assim, e levam a vida. Infelizmente, as pessoas do entorno são as que sofrem as
consequências de tamanhas bizarrices."
MARIA DO CARMO TORRES DICAS
DVD
Este filme é ótimo e trata, entre outras coisas, do uso excessivo de medicamentos por adolescentes.
(RS)
Impulsividade
Direção: Mike Mills
Classificação indicativa: 16 anos
Texto Anterior: Poucas e boas Índice
|