São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002
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s.o.s família - rosely sayão

Filhos não podem prescindir do controle dos pais

"Tenho uma filha de 14 anos e problemas no que diz respeito aos passeios que quer fazer. As amigas vão a bailes e chegam de madrugada e, como eu não deixo que faça o mesmo, ela fica revoltada. Diz que a trato como criança, fica infeliz e deprimida. Ela acha que perde as amigas por minha causa. Mas como vou deixar uma menina, a minha única filha, sair só com amigas e voltar de madrugada? Acho que as mães que deixam estão erradas. Fico indignada com as autoridades e o juizado, que deveriam proibir a entrada de menores em bailes. Assim, os pais não teriam de enfrentar esse problema. As mães que deixam são vencidas pelo cansaço, pela revolta e pelas ameaças que os filhos fazem. Estou resistindo aos apelos da minha filha, mas não é fácil. Ela ameaça ir embora e fazer besteira. Uma vez tive de ficar a noite inteira acordada -e trabalhar no dia seguinte- porque ela dizia que ia se matar. Gostaria de uma orientação sobre como agir, como convencer a minha filha de que só quero protegê-la para que não sinta ódio de mim."
Essa correspondência chegou em tom tão emocionado e desesperado que resolvi reproduzir alguns trechos dela. Certamente muitas mães e pais passam por momentos desse tipo e vão se identificar com nossa leitora. Bem, a primeira coisa que os pais precisam saber é que conflitos com filhos adolescentes são inevitáveis! Não dá para contorná-los sem abrir mão do papel educativo. Sim, sim, seria muito mais confortável não ter de passar por isso. Muitos pais tentam, mas o resultado não tem sido bom. Como ainda não tem recursos para conter seus impulsos imediatistas, o jovem não pode prescindir do controle dos pais.
Claro que, quando o adolescente se defronta com os limites que os pais dão, ele reage. Cada um a seu modo, com maior ou menor energia e usando esse ou aquele recurso. Como faz a filha de nossa leitora, que, inteligente, já percebeu que o que fisga a mãe é o apelo emocional. Por isso ela está jogando pesado. Mas faz parte do papel dos pais suportar essa raiva, esse ódio fulminante que os filhos sentem quando são impedidos pelos pais de fazer o que querem. Esses sentimentos são tão impulsivos e imediatistas quanto a vontade que os mobiliza. Isso passa!
Para suportar essa tensão que se cria, os pais precisam ter segurança da decisão que tomaram e administrar a situação conflitante. A tarefa impossível é a de querer convencer o filho de que os limites que deve acatar são para o bem dele. Na visão do jovem, o bem dele é fazer o que quer, as coisas de que gosta. Ele não concorda com nada que contraria suas vontades, não acha "legal". Ele pensa no presente e, como eu já disse várias vezes, os pais devem pensar no futuro.
Permitir ou não que o filho ou a filha de 14 anos vá só com a turma para as baladas, que correm soltas na madrugada, é uma decisão familiar. Por isso há pais que permitem -vencidos pelo cansaço ou por estilo ou convicção- e pais que proíbem. Não há consenso nesse assunto. Nem entre pais, nem entre especialistas. Portanto é preciso aprender a conviver com as diferenças entre os costumes do filho e os dos amigos. Não há como evitar esse problema. Aliás, é melhor os pais proibirem os filhos quando acham que é necessário do que pedir intervenção de fora para não desgastar o relacionamento entre eles. Certo?
Nenhuma mãe duvida de que protege o filho pequeno quando não o deixa brincar com facas ou perto do fogo. Mesmo com o filho fazendo birra, ela mantém firme a decisão. Então! Com filho adolescente não é muito diferente. Enquanto ele não alcança autonomia para avaliar com responsabilidade o que pode fazer sem correr riscos inutilmente, os pais assumem essa tarefa. E isso vai além de proibir ou permitir: é assim que o filho vai aprendendo a se cuidar e a se virar sozinho. Mesmo que, na hora, não goste muito do que acontece.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br



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