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s.o.s família - rosely sayão
Filhos não podem prescindir do controle dos pais
"Tenho uma filha de 14 anos e problemas
no que diz respeito aos passeios que
quer fazer. As amigas vão a bailes e chegam de
madrugada e, como eu não deixo que faça o
mesmo, ela fica revoltada. Diz que a trato como criança, fica infeliz e deprimida. Ela acha que perde as amigas por minha causa. Mas como vou deixar uma menina, a minha única filha, sair só com amigas e voltar de madrugada? Acho que as mães que deixam estão erradas. Fico indignada com as autoridades e o juizado, que deveriam proibir a entrada de menores em bailes. Assim, os pais não teriam de
enfrentar esse problema. As mães que deixam
são vencidas pelo cansaço, pela revolta e pelas
ameaças que os filhos fazem. Estou resistindo
aos apelos da minha filha, mas não é fácil. Ela
ameaça ir embora e fazer besteira. Uma vez tive de ficar a noite inteira acordada -e trabalhar no dia seguinte- porque ela dizia que ia
se matar. Gostaria de uma orientação sobre
como agir, como convencer a minha filha de
que só quero protegê-la para que não sinta
ódio de mim."
Essa correspondência chegou em tom tão
emocionado e desesperado que resolvi reproduzir alguns trechos dela. Certamente muitas
mães e pais passam por momentos desse tipo
e vão se identificar com nossa leitora. Bem, a
primeira coisa que os pais precisam saber é
que conflitos com filhos adolescentes são inevitáveis! Não dá para contorná-los sem abrir
mão do papel educativo. Sim, sim, seria muito
mais confortável não ter de passar por isso.
Muitos pais tentam, mas o resultado não tem
sido bom. Como ainda não tem recursos para
conter seus impulsos imediatistas, o jovem
não pode prescindir do controle dos pais.
Claro que, quando o adolescente se defronta
com os limites que os pais dão, ele reage. Cada
um a seu modo, com maior ou menor energia
e usando esse ou aquele recurso. Como faz a filha de nossa leitora, que, inteligente, já percebeu que o que fisga a mãe é o apelo emocional.
Por isso ela está jogando pesado. Mas faz parte
do papel dos pais suportar essa raiva, esse ódio
fulminante que os filhos sentem quando são
impedidos pelos pais de fazer o que querem.
Esses sentimentos são tão impulsivos e imediatistas quanto a vontade que os mobiliza. Isso passa!
Para suportar essa tensão que se cria, os pais
precisam ter segurança da decisão que tomaram e administrar a situação conflitante. A tarefa impossível é a de querer convencer o filho
de que os limites que deve acatar são para o
bem dele. Na visão do jovem, o bem dele é fazer o que quer, as coisas de que gosta. Ele não
concorda com nada que contraria suas vontades, não acha "legal". Ele pensa no presente e,
como eu já disse várias vezes, os pais devem
pensar no futuro.
Permitir ou não que o filho ou a filha de 14
anos vá só com a turma para as baladas, que
correm soltas na madrugada, é uma decisão
familiar. Por isso há pais que permitem
-vencidos pelo cansaço ou por estilo ou convicção- e pais que proíbem. Não há consenso nesse assunto. Nem entre pais, nem entre
especialistas. Portanto é preciso aprender a
conviver com as diferenças entre os costumes
do filho e os dos amigos. Não há como evitar
esse problema. Aliás, é melhor os pais proibirem os filhos quando acham que é necessário
do que pedir intervenção de fora para não desgastar o relacionamento entre eles. Certo?
Nenhuma mãe duvida de que protege o filho
pequeno quando não o deixa brincar com facas ou perto do fogo. Mesmo com o filho fazendo birra, ela mantém firme a decisão. Então! Com filho adolescente não é muito diferente. Enquanto ele não alcança autonomia
para avaliar com responsabilidade o que pode
fazer sem correr riscos inutilmente, os pais assumem essa tarefa. E isso vai além de proibir
ou permitir: é assim que o filho vai aprendendo a se cuidar e a se virar sozinho. Mesmo que,
na hora, não goste muito do que acontece.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras);
e-mail: roselys@uol.com.br
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