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Conceito biológico de raça gera polêmica entre pesquisadores
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
No que talvez seja o
mais politicamente carregado debate da medicina
hoje, pesquisadores se engalfinham para determinar se o conceito de raça
tem ou não tem validade
científica.
É claro que, no mundo
da biologia, ninguém sério chega a negar que existam doenças "típicas" de
determinados grupos étnicos. A anemia falciforme, por exemplo, afeta
um número desproporcionalmente maior de negros, que também tendem
a sofrer de formas mais
graves de hipertensão arterial e diabetes.
Judeus de ascendência
europeia têm maior propensão a um tipo de câncer de mama e são os detentores quase exclusivos
da doença de Tay-Sachs,
causada por mutações em
um gene e caracterizada
por uma degeneração
neurológica progressiva.
Praticamente todo grupo étnico tem seu "pool"
de doenças mais recorrentes. Até aí nenhuma
surpresa. Quer raças tenham ou não amparo
epistemológico, existe algo chamado hereditariedade, que faz com que filhos se pareçam com seus
pais e tendam a sofrer das
mesmas moléstias.
O debate tem início
quando se considera se o
conceito de raça, definido
pelo critério de ancestralidade continental -que
resulta em africanos, caucasoides, asiáticos, australo-melanésios e ameríndios-, tem alguma utilidade e se deve ou não ser
empregado em pesquisas
biomédicas.
Adversários das raças
argumentam que essa divisão é grosseira demais.
Grupos que vivem nas
franjas dos continentes,
por exemplo, reúnem características mistas, como
os etíopes.
Também afirmam que
os elementos que percebemos como definidores
de raça representam diferenças apenas cosméticas
como a cor da pele, sendo
incapazes de explicar
doenças que são fisiologicamente complexas e
multigênicas.
Sustentam, por fim, que
o conceito de raça, pelos
males que já causou ao
longo da história, deveria
ser abandonado em favor
de noções politicamente
neutras, como grupamentos de genes que possam
ser correlacionados a
doenças.
Críticos dessa abordagem dizem que o uso de
categorias raciais é inevitável e muitas vezes positivo. Poucos médicos perderão tempo -e recursos- testando negros para a doença de Tay-Sachs
por exemplo.
Defendem que se multipliquem os ensaios clínicos que levem em conta
categorias raciais, na esperança de identificar
com mais precisão quais
grupos reagem melhor à
droga testada. Seria o
pontapé inicial de uma
era em que a medicina
ofereceria drogas adaptadas ao perfil genético do
paciente.
No plano político, a tendência a negar as raças era
tradicionalmente vinculada a posições de esquerda, para a qual a igualdade
entre os homens seria um
dado da natureza. Trabalhos recentes em diversas
áreas, entretanto, vêm
corroendo a ideia de uma
base biológica para a
igualdade.
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