São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mudança de escola

Nesta época do ano ocorre um movimento migratório de alunos entre as escolas privadas. Tal fato se deve ao anseio desesperado dos alunos -principalmente dos que cursam os últimos anos do ensino fundamental ou o ensino médio- ou à análise pelos pais da vida escolar dos filhos. Não vamos considerar as "expulsões brancas", ou seja, o pedido das escolas para que os pais transfiram determinados alunos.
Quando são os filhos a solicitar a troca, os argumentos são decisivos para que os pais aceitem a proposta: dificuldades de relacionamento com os colegas, com os professores e até com algumas disciplinas, vontade de acompanhar os amigos ou melhores possibilidades de aproveitamento escolar.
Quando são os pais que determinam a mudança, o que almejam é o êxito escolar -que pode significar a busca por uma escola mais exigente ou a possibilidade de o filho ser aprovado. Será que essa mudança pode ser benéfica aos alunos?
A primeira situação que quero levantar diz respeito à atuação das escolas. Muitas chamam os pais e, de modo direto ou indireto, apontam a possibilidade de o aluno ser reprovado -ou retido, como preferem dizer agora- no final do ano.
Essa atitude é um contra-senso. As escolas ignoram que apenas meio trajeto foi percorrido e que, portanto, há outro tanto a ser trabalhado neste ano letivo. Quando não vêem possibilidades de melhoria é porque não pretendem fazer nada pelos alunos que não conseguiram render e não têm esperança no próprio trabalho.
Algumas escolas esperam fazer com que os pais se sintam pressionados e façam algo para que os filhos estudem mais.
Mas isso pode ter o efeito oposto: os pais podem realmente pressionar o filho, mas de forma negativa. Sei de casos de pais que forçaram os filhos a estudar nas férias e tiraram a viagem planejada. Ora, sabemos que isso não contribui para uma visão positiva da relação com a escola, não é?
Quando uma escola afirma, no meio do período, que o aluno tem poucas chances de aprender caso não mude radicalmente, ela já traçou seu destino. Uma pena tal atitude: mostra que as escolas procuram trabalhar com determinado perfil de aluno -aquele que não precisa tanto do trabalho da escola para se desenvolver.
E quando são os alunos que pedem para mudar? Se o motivo é alguma dificuldade, de relacionamento ou de aprendizagem, os pais devem encorajar o filho a encarar os problemas.
Nenhum obstáculo da vida escolar é insuperável, e os alunos precisam aprender a agir quando se defrontam com eles. Finalmente, se os pais decidiram pela mudança porque perderam a confiança na escola, o melhor é mesmo realizar a transferência. Sem confiança, os pais não conseguem delegar à escola a educação do filho.
Mudar de escola no meio do período letivo não é problema para o aluno: com o apoio firme da nova escola, ele pode construir rapidamente novas relações e se adaptar à instituição.
O que pode ser problema são os motivos que levam à mudança.
Por isso, os pais precisam analisar com cuidado a situação a fim de tomarem a decisão que seja mais favorável ao crescimento do filho -e não a que proporcione facilidades a ele.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


Texto Anterior: Importante
Próximo Texto: Bate-papo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.