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Neurociência
Casamento e longevidade
O neurocientista Robert Sapolsky é um
dos maiores especialistas em estresse da atualidade e, como
tal, é muitas vezes solicitado
a dar entrevistas. Em uma
delas, a repórter perguntou
qual era sua receita particular para lidar com o estresse
crônico. A resposta: "Eu amo
o meu trabalho, faço exercício regularmente -não dispenso minhas três partidas
de futebol por semana- tenho um casamento maravilhoso há quase 20 anos".
A repórter ficou furiosa. A
reportagem era para uma revista direcionada a mulheres
executivas, solteiras e poderosas. "O senhor percebe que
essas mulheres já têm em
média mais de 35 anos, vivem para o trabalho e talvez
nunca se casem? Como posso dizer a elas que sofreriam
menos as conseqüências do
estresse crônico se estivessem casadas?"
E, no entanto, é fato: em
média, pessoas casadas
adoecem menos e vivem
mais do que as solitárias.
Eventos devastadores, como
a morte de um filho, não aumentam a mortalidade nos
anos seguintes entre pais casados, mas aumentam entre
aqueles já divorciados ou
viúvos na época da perda,
que não contavam com o
apoio de um cônjuge. Entre
pacientes com doenças cardíacas graves, a taxa de mortalidade é três vezes maior
entre aqueles que não contam com o apoio social de
amigos íntimos e cônjuges.
Relacionamentos afetam
nossa vida de várias formas.
Uma delas, que tem impacto
diretamente sobre o bem-estar, é a regulação da resposta
ao estresse. Pessoas socialmente isoladas têm o sistema de resposta ao estresse
exageradamente ativo, o que
provoca hipertensão, leva à
formação de placas nas artérias e aumenta a chance de
doenças cardíacas. No final
das contas, viver sozinho pode ter um impacto negativo
sobre a longevidade tão
grande quanto fumar, ser hipertenso, obeso ou sedentário -tudo, aliás, devido ao estresse crônico.
Claro que isso não significa
que o casamento seja a solução de todos os problemas.
Ele pode, sim, ser um fator de
proteção -mas só se for com
a pessoa certa.
Não é preciso ser cientista
para saber que um mau casamento faz mal à saúde, com
conseqüências negativas para corpo e mente.
E ter um(a) companheiro(a) estável é ótimo, mas
não é tudo. Amigos íntimos
-bons amigos, daqueles que
sabem da nossa vida, nos
apóiam em qualquer circunstância e aparecem ao
primeiro pedido de ajuda-
reduzem nossa resposta ao
estresse e fazem um bem danado à saúde. Mas isso você
já sabia...
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate" e de "O
Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent)
suzanahh@folhasp.com.br
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