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Profissionais e entidades de várias áreas unem-se para analisar e divulgar os benefícios do perdão, que se refletem até na saúde
Perdoar faz bem ao corpo, à alma e às relações
ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL
Sem o perdão, a humanidade pára, estanca, petrifica-se. "O perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana", escreveu o bispo africano Desmond Tutu na introdução
do livro "Exploring Forgiveness" (explorando o perdão), do psicólogo norte-americano Robert Enright, diretor do Instituto Internacional do Perdão (www.forgiveness-institute.org), da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados
Unidos.
O livro é apenas uma das iniciativas
de um movimento mundial que tem
crescido nos últimos anos e cujo objetivo é pesquisar e propagar os benefícios do perdão. Encabeçado por
cientistas, psicólogos, líderes políticos, entidades religiosas e até médicos, esse "mutirão" em prol do perdão mostra que perdoar vai além do
discurso beatífico da "carola".
Pelo menos 50 pesquisas estão sendo realizadas atualmente, como parte
de um programa chamado Campanha para a Pesquisa do Perdão
(www.forgiving.org).
Vítimas da guerra no Vietnã, mães
que perderam filhos no conflito entre
católicos e protestantes na Irlanda do
Norte, casais que viveram a infidelidade conjugal e pessoas que tiveram
parentes assassinados são exemplos
do universo pesquisado.
Perdão de Andreas Em um momento em que o país ainda está "digerindo" o assassinato de Marísia e
Manfred von Richthofen, o filho do
casal, Andreas, 15, declarou ter perdoado a irmã, Suzane, 19, pela participação no crime. "Não só perdoei minha irmã Su, mas continuo a amá-la",
escreveu Andreas para a imprensa.
A atitude do jovem pode ter espantado muita gente, que, no lugar dele,
talvez não perdoasse Suzane. Mas, se
ele não tivesse tomado essa atitude,
teria colocado um ponto final na relação com a irmã.
"O perdão possibilita que as relações interpessoais fluam. Andreas
perdoou Suzane porque quer continuar se relacionando com ela", diz a
psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner.
Nesse sentido, diz o teólogo João
Décio Passos, o perdão possibilita o
processo civilizatório da humanidade. "O perdão é um recurso psicológico e social que regula as relações humanas."
É ele que permite que um casamento não acabe e que uma amizade tenha continuidade depois de um conflito, por exemplo, ou que as relações
de trabalho sobrevivam em meio aos
desentendimentos que costumam
ocorrer em ambiente profissional.
Mas perdoar não significa necessariamente esquecer a mágoa. Quando
os fatos foram dolorosos demais,
nunca vão embora da memória. "Entretanto a pessoa pode se lembrar do
apoio que obteve no momento de dor
e fazer com que esse apoio minimize
a lembrança dolorosa", disse à Folha
o psicólogo americano Frederic Luskin, diretor do Projeto Perdão
(www.learningtoforgive.com), da
Universidade de Stanford (EUA), e
autor de "O Poder do Perdão".
Proteção da saúde A medicina
não recomenda viver amargurado,
com rancor ou raiva contidos. Procurar minimizar o sofrimento -e isso
vale tanto para quem toma a iniciativa de pedir perdão como para quem
perdoa- é uma forma de proteger a
saúde. "Se a pessoa acumula sentimentos negativos, pode desencadear
uma série de transtornos não só psicológicos, mas físicos também", diz o
psiquiatra José Atílio Bombana, da
Unifesp. Por isso os médicos questionam a respeito do estado emocional
do paciente -e devem fazer isso ativamente, diz José Antônio Atta, chefe
do ambulatório do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Se a pessoa consegue se livrar de um sentimento negativo crônico, com certeza isso pode
acelerar sua recuperação", diz ele.
Sem perdão Apesar de tantos benefícios -para o corpo, para a saúde
psicológica e para as relações interpessoais-, a pessoa pode sentir uma
dificuldade fora do comum para perdoar o outro ou ainda para pedir perdão a quem ela magoou. Se para tanto
ela tiver de passar por cima de princípios básicos, tiver de questionar sua
própria identidade, talvez deva esquecer a idéia, pois isso também pode
fazer muito mal , diz Bombana.
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