São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002
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s.o.s. família - rosely sayão

Como ajudá-lo a dar sentido pessoal aos estudos

O filho tem quatro, cinco anos, e os pais já se preocupam em escolher uma escola que o prepare bem para o vestibular. Não é incrível isso? Mas, infelizmente, muitos pais estão agindo assim. Outros não deixam as coisas tão claras, mas o fato é que, por trás de toda a preocupação com o bom rendimento escolar do filho, o que há é investimento e aposta excessiva na possibilidade de um futuro promissor como consequência do êxito escolar. Só que, ao que parece, os efeitos têm sido opostos ao esperado, ou seja, muitos filhos estão indo mal na escola, e os pais querem saber o que podem fazer para mudar esse quadro.
Isso já vale uma conversa -ou muitas- e reflexões para que os pais possam pensar de um outro jeito e, como consequência, talvez mudar de atitude em benefício dos filhos e da relação deles com o estudo e a escola.
Talvez o mais importante seja dizer que castigar ou premiar o filho conforme o resultado que apresenta nos seus estudos não adianta muito. Entre os sete e os 12 anos, mais ou menos, o filho precisa muito mais de orientação para entender que estudar exige disciplina, dedicação e esforço. E que isso significa abrir mão de outras coisas mais interessantes na visão dele, como brincar, por exemplo.
Orientação, entretanto, não é apenas discurso, conversa, explicação. É também. Mas, se tudo isso não vier acompanhado de uma ação prática por parte dos pais, não vai resultar em muita coisa. Um exemplo? Os pais podem ajudar o filho a se organizar para estudar. Não apenas organizar o espaço e o material que serão usados, mas, principalmente, o tempo e a dedicação. Designar um período marcado no dia para que ele possa estudar e/ou fazer as lições é uma boa maneira. Essa é apenas uma das ações mais simples, existem outras.
Isso requer aquela famosa atenção, paciência e autoridade dos pais para que o que foi decidido como regra seja, realmente, cumprido, e não apenas mais um motivo para brigas, reclamações e chantagens emocionais.
Se os pais conseguem fazer o filho entender na prática que estudar é uma responsabilidade que ele precisa assumir do jeito dele, o resto é com a escola. O que os pais não podem é cair na tentação de se portarem como professores dos filhos. Outro dia, em uma reunião com pais de uma escola, fiquei surpresa com várias questões apresentadas, porque mostravam o quanto eles estavam assumindo as funções típicas do professor. Um queria saber o que fazer para que o filho aprendesse a ter gosto pela literatura; outro, qual o melhor método pedagógico para ensinar o filho; e outro, ainda, pedia informações sobre a maneira mais proveitosa de corrigir as lições com o filho.
Vamos deixar aos professores essas tarefas, senão eles terão de ser um pouco pais dos alunos também -e isso não costuma dar certo! A ação dos pais deve ser dirigida para que o filho perceba que a escola e os estudos são problemas dele; senão, o filho vai estudar para os pais, seu rendimento vai ser um presente ou uma ofensa aos pais, e desse modo vai ficar muito difícil dar seu sentido pessoal aos estudos. E mais: os filhos não precisam ser bons alunos. Aliás, não há relação garantida entre ser bom aluno no ensino fundamental ou médio e ter, na vida adulta, uma boa vida profissional.
Se o filho vai mal nos estudos, pode ser interessante os pais aumentarem o tempo que ele deve dedicar aos estudos em casa e pesquisar, por meio de conversas, se esse não é um sinal de que ele enfrenta outros problemas, como insegurança, pouca coragem para encarar os novos desafios etc. Isso já basta. No mais é, em casa, estimular o filho a usar no cotidiano os conhecimentos que adquiriu e, principalmente, aguçar sua curiosidade.
Eu sei que é difícil para os pais resistir à pressão social que quase exige dos alunos o êxito nos estudos. Mas, como isso não se tem mostrado eficiente, mudar o rumo da expectativa pode apontar outros caminhos talvez muito melhores. Por último, um pedido: estudar nas férias, não!


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e- mail: roselys@uol.com.br


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