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s.o.s. família - rosely sayão
Como ajudá-lo a dar sentido pessoal aos estudos
O filho tem quatro, cinco anos, e os pais já
se preocupam em escolher uma escola
que o prepare bem para o vestibular. Não é incrível isso? Mas, infelizmente, muitos pais estão agindo assim. Outros não deixam as coisas
tão claras, mas o fato é que, por trás de toda a preocupação com o bom rendimento escolar
do filho, o que há é investimento e aposta excessiva na possibilidade de um futuro promissor como consequência do êxito escolar. Só
que, ao que parece, os efeitos têm sido opostos
ao esperado, ou seja, muitos filhos estão indo
mal na escola, e os pais querem saber o que
podem fazer para mudar esse quadro.
Isso já vale uma conversa -ou muitas- e
reflexões para que os pais possam pensar de
um outro jeito e, como consequência, talvez
mudar de atitude em benefício dos filhos e da
relação deles com o estudo e a escola.
Talvez o mais importante seja dizer que castigar ou premiar o filho conforme o resultado
que apresenta nos seus estudos não adianta
muito. Entre os sete e os 12 anos, mais ou menos, o filho precisa muito mais de orientação
para entender que estudar exige disciplina,
dedicação e esforço. E que isso significa abrir
mão de outras coisas mais interessantes na visão dele, como brincar, por exemplo.
Orientação, entretanto, não é apenas discurso, conversa, explicação. É também. Mas, se
tudo isso não vier acompanhado de uma ação
prática por parte dos pais, não vai resultar em
muita coisa. Um exemplo? Os pais podem ajudar o filho a se organizar para estudar. Não
apenas organizar o espaço e o material que serão usados, mas, principalmente, o tempo e a
dedicação. Designar um período marcado no
dia para que ele possa estudar e/ou fazer as lições é uma boa maneira. Essa é apenas uma
das ações mais simples, existem outras.
Isso requer aquela famosa atenção, paciência e autoridade dos pais para que o que foi decidido como regra seja, realmente, cumprido,
e não apenas mais um motivo para brigas, reclamações e chantagens emocionais.
Se os pais conseguem fazer o filho entender
na prática que estudar é uma responsabilidade que ele precisa assumir do jeito dele, o resto
é com a escola. O que os pais não podem é cair
na tentação de se portarem como professores
dos filhos. Outro dia, em uma reunião com
pais de uma escola, fiquei surpresa com várias
questões apresentadas, porque mostravam o
quanto eles estavam assumindo as funções típicas do professor. Um queria saber o que fazer para que o filho aprendesse a ter gosto pela
literatura; outro, qual o melhor método pedagógico para ensinar o filho; e outro, ainda, pedia informações sobre a maneira mais proveitosa de corrigir as lições com o filho.
Vamos deixar aos professores essas tarefas,
senão eles terão de ser um pouco pais dos alunos também -e isso não costuma dar certo!
A ação dos pais deve ser dirigida para que o filho perceba que a escola e os estudos são problemas dele; senão, o filho vai estudar para os
pais, seu rendimento vai ser um presente ou
uma ofensa aos pais, e desse modo vai ficar
muito difícil dar seu sentido pessoal aos estudos. E mais: os filhos não precisam ser bons
alunos. Aliás, não há relação garantida entre
ser bom aluno no ensino fundamental ou médio e ter, na vida adulta, uma boa vida profissional.
Se o filho vai mal nos estudos, pode ser interessante os pais aumentarem o tempo que ele
deve dedicar aos estudos em casa e pesquisar,
por meio de conversas, se esse não é um sinal
de que ele enfrenta outros problemas, como
insegurança, pouca coragem para encarar os
novos desafios etc. Isso já basta. No mais é, em
casa, estimular o filho a usar no cotidiano os
conhecimentos que adquiriu e, principalmente, aguçar sua curiosidade.
Eu sei que é difícil para os pais resistir à pressão social que quase exige dos alunos o êxito
nos estudos. Mas, como isso não se tem mostrado eficiente, mudar o rumo da expectativa
pode apontar outros caminhos talvez muito
melhores. Por último, um pedido: estudar nas
férias, não!
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-
mail: roselys@uol.com.br
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