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Influenza chega mais cedo e de cara nova todo ano
Doença é preocupação em todo o mundo, pois há mutações inesperadas que causam grandes estragos; OMS prevê pandemia
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A gripe de hoje nunca é a mesma de ontem. Aliás, nem a que infecta hoje uma pessoa é a mesma que porventura venha a infectá-la amanhã.
A influenza, vírus da gripe, é mutante feito camaleão. Neste ano, o brasileiro enfrenta os "modelos" H3N2, H2N2 e H1N1 -nomes científicos de
subtipos da influenza já aguardados pelos especialistas e cuja chegada antecipada de pelo menos um deles, o H3N2 (mais conhecido por Fujian),
tem derrubado muita gente.
Esperada sempre para o outono, a influenza aportou por aqui dois meses antes, em pleno verão de fevereiro. Segundo
os especialistas em gripe, o vírus está, a
cada ano, chegando mais cedo. É um fenômeno freqüente no mundo que, associado à capacidade de mutação do vírus,
está preocupando a sociedade médica internacional.
Apesar de controladas, algumas pequenas epidemias surgidas nos últimos anos
na Ásia indicam como uma determinada
variação da influenza pode esbanjar
agressividade e quão frágil é a sociedade
para enfrentá-la. A gripe do frango, no
ano passado, é um exemplo. "Dos 30 pacientes diagnosticados, 27 morreram. E o
problema acometeu jovens de 17 a 30 e
poucos anos, mostrando que esse novo
vírus mutante não ataca apenas os idosos, que são considerados grupo de risco", diz o virologista Edison Luiz Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas
da Universidade de São Paulo.
A influenza está sempre passando por
mutações de dois tipos. Há as de menor
grau, que acontecem a cada outono-inverno e são menos preocupantes, mas
podem escapar da imunidade conferida
pela vacina. É o caso do Fujian, que pegou americanos e europeus de surpresa
no ano passado e no começo deste. Como
resultado, o número de internações triplicou e o de mortes dobrou. A contaminação envolveu também quem já havia
recebido a vacina contra a gripe.
Feita com antecedência, a imunização é
eficaz apenas contra os subtipos que circularam com mais freqüência no inverno
anterior, mas não está preparada para
combater toda e qualquer mutação que
apareça de supetão.
"O que prova que as mutações da influenza não são tão controláveis", diz o
geriatra João Toniolo Neto, da Universidade Federal de São Paulo e estudioso do
vírus da gripe. O problema cresce em importância quando a mutação é do segundo tipo: de grandes proporções, que são
as responsáveis pelas pandemias -epidemias que acometem o mundo todo.
Essas mutações são cíclicas (ocorrem a
cada 20, 30 ou 40 anos) e, em geral, envolvem a transmissão entre espécies animais
como aves e porcos.
A última pandemia surgiu na China,
em julho de 1968. Batizada como gripe de
Hong Kong, disseminou-se para Taiwan,
Filipinas, Cingapura e para o Vietnã. Depois chegou à América do Norte, à Austrália e à Índia e, finalmente, em 1969,
aportou na América do Sul.
Já a ameaça de pandemia mais recente
foi a gripe das aves, em 1997. Para conter
o vírus que infectou 18 pessoas em Hong
Kong, matando seis delas, o governo sacrificou 1,5 milhão de frangos, agente
transmissor da doença.
E por que as notícias de surtos de gripe
sempre vêm dos países asiáticos? É que a
influenza incide com mais freqüência nas
aves e nos suínos, além do homem, e na
Ásia tais animais são bastante presentes
na culinária e na atividade econômica.
Uma nova pandemia está sendo esperada para 2008, no máximo 2017, e o número de vítimas pode chegar a 60 milhões de pessoas, diz Toniolo. A Organização Mundial da Saúde possui um plano
de prevenção que está sendo implantado
em todos os países, inclusive no Brasil. "A
idéia é pensar com antecedência que grupos serão priorizados, que tipos de médico estarão disponibilizados e o estoque
de medicamentos e de vacina, por exemplo", conta a virologista Marilda Siqueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
no Rio de Janeiro, uma das três instituições credenciadas pela OMS no Brasil.
Mas as pessoas não devem sofrer por
antecipação. "A pandemia é uma realidade que poderá ou não acontecer", diz a
cientista.
Sem pandemia, a gripe afeta hoje 10%
da população mundial. No Brasil, causa
entre 10 mil e 15 mil mortes, em geral, de
idosos e portadores de doenças crônicas,
grupos mais suscetíveis a complicações
decorrentes da infecção viral.
As mutações são sempre novas, mas os
sintomas são sempre os mesmos e já derrubavam o homem séculos atrás -há relatos de epidemia anteriores a 500 a.C.
Apesar disso, nem todos sabem que uma
mesma gripe não ataca duas vezes a mesma pessoa.
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