São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2000
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Disfunção que ocorre na área das articulações da bocacausa diferentes sintomas em várias partes do corpo
Quando a dor corre o corpo, mas a raiz é a boca

Reprodução
Detalhe de fotomontagem sem título do artista americano Man Ray


DINAH FELDMAN
FREE-LANCER PARA A FOLHA

Mudanças de humor, problemas na coluna ou dores de cabeça crônicas podem ter como origem a boca. O "fenômeno" em questão leva o nome de DTM (disfunção temporomandibular). E suas vítimas sofrem não apenas devido ao incômodo da dor, mas pela dificuldade de identificar a causa do problema. Além de os vários sintomas aparecerem em diferentes áreas do corpo, ele costuma ser invisível -você provavelmente não vai identificá-lo se abrir a boca em frente ao espelho.
A boca é formada pelo maxilar, uma estrutura óssea com duas articulações que dão mobilidade para a mandíbula. "E essas articulações estão sujeitas a problemas inflamatórios, eventualmente infecciosos", explica José Tadeu Tesseroli de Siqueira, supervisor da Equipe de Dor Orofacial da Divisão de Odontologia do Hospital das Clínicas. Além disso, há os músculos da mandíbula, que são responsáveis pela mastigação. Pois a DTM pode estar localizada "nos dentes, no osso, em uma articulação, nas duas, em um ou mais músculos e provocar dores totalmente à distância da origem, chamadas genericamente de dores orofaciais", diz Siqueira. Antigamente, dizem os especialistas, acreditava-se que o estresse era um dos principais responsáveis pela doença. Hoje se sabe que o problema é multifatorial, e as dores têm como consequência, e não como causa, alterações de humor e depressão. "A ocorrência da disfunção depende de vários fatores, como características da arcada dentária, presença e ausência de dentes, padrão postural e hábitos de mastigação e respiratórios do indivíduo", explica Siqueira. Acertar o diagnóstico costuma ser o grande desafio. Como o corpo é interligado por cadeias musculares, "é sempre uma via de duas mãos: um pisar torto pode levar a um problema na boca, e uma DTM pode causar alterações posturais", afirma Oldack Borges de Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Reeducação Postural Global (RPG). "Um mau posicionamento da mandíbula pode provocar uma alteração no pescoço e acabar provocando um desvio na coluna", completa ele. Num caso como esse, por exemplo, a pessoa normalmente procura um ortopedista. Se o profissional não diagnosticar corretamente a disfunção, vai atacar o sintoma, o que pode até resolver temporariamente o problema, mas não eliminará a causa. Isso significa a volta da dor ou o surgimentos de outros sintomas.

DTM em pesquisa
Durante cinco anos, entre 1990 e 1995, a Equipe de Dor Orofacial do HC realizou um estudo com 70 pacientes com problemas de disfunção temporomandibular. A maioria delas tinha dores de causas variáveis, as quais foram tratadas, mas 26 casos foram considerados intratáveis. Em uma segunda avaliação dos mesmos casos, verificou-se que, entre os 26, 9 tinham diagnósticos errados, 10 eram crônicos e precisavam de tratamento multidisciplinar e 7 tinham como causa primária problema no dente cuja dor era sentida em outro lugar, como ouvido ou nuca. Aliás, estima-se que 5% da população brasileira tem queixas de dor crônica na face, diz Siqueira. "Ao contrário do que se pensava antigamente, o importante é ter uma boca que funcione adequadamente, e não com os dentes perfeitamente alinhados. Estética não é sinal de saúde", lembra Roberta Freire, ortopedista funcional dos maxilares. A boca de um sorriso lindo, com dentes brancos, pode não estar funcionando direito e causar dores crônicas. A DTM tem ainda outras características, como a de contar com um número maior de pacientes do sexo feminino.

Como é o tratamento
Sobre o tratamento, os profissionais explicam que pode ser dividido em três fases. "A primeira consiste em tirar a dor do paciente, depois trata-se de melhorar a postura do maxilar, e, por fim, é feita a reabilitação por meio de correções ortodônticas com aparelhos, próteses ou eventualmente cirurgias", diz o ortodontista Mustaphá Amad Neto.



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