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"Não há como rastrear o abusador"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com "Eu Não Sou Doente"
(ed. Arx), publicado em 20 países e elogiado por publicações
estrangeiras, a norte-americana Julie Gregory (www.ju
liegregory.com) começou a
passar sua vida a limpo por
meio da literatura.
Porém, depois do segundo livro, "My Father's Keeper", ela
decidiu mudar de rumo e partir
para a ficção. "Estou escrevendo algo divertido dessa vez, sobre amor, sexo e relacionamentos ruins", afirma a escritora.
Abaixo, leia trechos da entrevista de Gregory à
:
(DM)
FOLHA - Além de ter sido vítima de
MBP, você vivenciou uma infância
com pais violentos, como conta em
seus livros. De que maneira conseguiu sobreviver a isso?
JULIE GREGORY - É o que as crianças fazem, elas sobrevivem. Algumas delas são afetadas de
modo tão grave que se veem limitadas em seu potencial
quando se tornam adultas. Podem, por exemplo, desenvolver
dependência química ou eleger
outras pessoas violentas para
continuar a ser abusadas por
elas.
No meu caso, acho que consegui superar meu passado para fazer o que faço agora, ajudar
as pessoas e, espero, contribuir
para o fim de abusos como os
sofridos pelas vítimas de Munchausen por procuração.
FOLHA - "My Father's Keeper"
mostra uma vida condicionada pelo
problema psiquiátrico de seu pai.
Você crê que isso tenha ajudado no
aparecimento da MBP em sua família?
GREGORY - Se um de seus pais é
absolutamente problemático, o
outro é quase ou tão problemático quanto, ao decidir ficar
com ele. O fato de meu pai ter
seus próprios problemas com a
realidade, por conta da esquizofrenia paranoide, facilitou
para minha mãe apagar seus
vestígios e afastar os questionamentos que apareciam quando
meu pai lhe indagava por que
todas as crianças da casa estavam doentes.
FOLHA - O livro será lançado em
português?
GREGORY - Estou trabalhando
para que isso aconteça. Algumas das cartas mais bonitas e
comoventes que recebi vieram
dos meus leitores brasileiros de
"Eu Não Sou Doente". As emoções e a profundidade dessas
mensagens me fizeram chorar.
FOLHA - Você dá consultoria e ajuda às vítimas de MBP. Qual a maior
dificuldade para combatê-la?
GREGORY - Não há nenhum órgão que centralize o número de
casos de MBP, então não há números precisos sobre sua ocorrência. O que se sabe é que, por
causa da dificuldade em flagrar
os abusadores, estima-se que
esse tipo de crime aconteça
com frequência muito maior do
que se imagina.
Hoje, não há como rastrear o
abusador. Se um hospital não
fizer um exame invasivo ou
uma cirurgia, ele pode ir a outro
na mesma rua e conseguir o que
deseja. Essa falta de cruzamento de informações conspira a
favor do perpetrador da MBP.
Seria fantástico se os hospitais pudessem ter um banco de
dados de casos suspeitos do
abuso e outras instituições de
saúde pudessem ver a história
dos pacientes.
As instituições locais de defesa da criança muitas vezes não
têm meios para identificar um
abusador astuto. Se eles conseguem enganar um médico, eles
podem enganar um agente de
proteção infantil, certo? São
muito bons manipuladores.
Outro fator importante é ajudar as pessoas a entender que
algumas mulheres são psicopatas. Elas já o eram antes de ter
seus filhos, e isso não muda
com a maternidade. Se elas encontram um marido passivo, o
caminho fica livre para esse tipo de abuso.
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