São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009
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CRIANÇA

Volta sem drama

Crianças podem demorar a se readaptar ao retorno às aulas; prepará-las com um pouco de antecedência minimiza problema

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Manuela de Andrade, de dois anos, que estranhou a volta à escola no início desde ano

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para os adultos, um mês de férias parece invariavelmente pouco. Mas, no caso dos pequenos, 30 dias longe da escola já são suficientes para que eles possam apresentar resistência a retomar a antiga rotina.
Pediatras americanos afirmam que algumas crianças podem até ter sintomas como náusea, fadiga, dores de cabeça e abdominais por causa disso -num artigo publicado na revista "American Family Physician", da academia americana de médicos de família, o comportamento é denominado "school avoidance" (o ato de evitar a escola).
Segundo Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, para que a volta às aulas seja um processo natural, o ideal é que os pais preparem as crianças com antecedência e evitem deixar para restabelecer rotinas, como horário mais rígido para ir para a cama, no último dia de férias. "Voltar de viagem no domingo à noite quando a criança tem aula na segunda é inadequado."
De acordo com Bombonatto, elas precisam de tempo para organizar o material escolar. Dar uma olhada nas últimas lições do semestre anterior ou encontrar os colegas mais próximos também são atitudes a serem incentivadas, principalmente entre os mais velhos.
Deixar que os filhos faltem no primeiro dia de aula não parece grave, mas é uma tentação que deve ser evitada. "É importante que a criança esteja presente para reencontrar os amigos, contar como foram as suas férias e sentir-se, assim, parte do grupo", afirma.
Quando esses artifícios não resolvem, a professora da Faculdade de Educação da PUC-SP Maria Angela Barbato Carneiro recomenda fazer uma nova readaptação. "Existem escolas que permitem isso. Não é necessário muito tempo, são só dois ou três dias", diz.
De acordo com Bombonatto, de 20% a 30% das crianças precisam de uma readaptação depois das férias, mas, em geral, ela é mais rápida do que a primeira adaptação porque a criança já conhece o ambiente.
Foi o que aconteceu com Manuela, de dois anos e sete meses. Sua mãe, a psicóloga Melissa Correas de Andrade, 32, conta que, no início do ano, a filha estranhou o local, que já frequentava desde o semestre anterior. "O primeiro e o segundo dia não foram normais. Ela chorou na hora de entrar."
Apesar de menos frequente, os alunos que já foram alfabetizados também podem ter essa resistência. "O segundo semestre é um período mais pesado do ponto de vista do desempenho escolar porque acabam se somando conteúdos dados antes. Isso pode causar insegurança", afirma Maria Angela Barbato Carneiro.
Para ela, uma conversa com a professora ou com a orientação da escola pode ser útil.
Bombonatto acredita que o modo como os pais lidam com a volta às aulas tem influência. "Quando a criança tem resistência pode ser sinal de uma resistência da mãe em abrir mão do convívio com ela."
Para a psicopedagoga, o importante é que a família esteja tranquila e tenha boas expectativas. "Fale sobre os amigos, as atividades que ela fazia na escola. Trate como um reencontro, mantendo o vínculo com o semestre passado", orienta.


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