São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dentes à la Gisele compensam sacrifício

Laura Capriglione
DA REPORTAGEM LOCAL

Dói, dói, dói. Embora coroada de êxito, a experiência de um ano de vida com um arreio, quer dizer, com um aparelho ortodôntico, pode ser resumida nisto: dor, dor e dor.
Começa com a consulta no especialista, uma humilhação. Já na sala de espera, só gente com sorrisos meticulosamente alinhados. Branquíssimos. Chega-se a cogitar se não seria todo mundo banguela com dentadura. Cai fora, pensamento invejoso. É duro ter os dentes tortos, maltratados por décadas de tabagismo e de escovação "meia-boca".
A dica para começar o tratamento é: entregue-se. Entregue-se a um dentista com ótimas referências, mas entregue-se. Só se submete voluntariamente à tortura quem não pensa nela, na dor, no sangue.
E, assim, na primeira sessão, muito anestésico antes e lá se vão quatro dentes -extraídos de uma só vez. Nocaute. Na saída, não se sabe onde fica a boca. Cadê a língua? Falar, nem pensar. Da boca, só saem um balbucio ininteligível e um fio de sangue. "Pega o lenço", sugere a recepcionista, e você pega. Ainda bem. Salva o estofamento do táxi que leva você até sua casa.
Nas sessões seguintes, os ferrinhos ("brackets") são colados em cada dente. Fios de aço alinham os dentes. E, por fim, vêm os adereços: elásticos para tracionar, puxar, empurrar; uma barra que atravessa o céu da boca, além de implantes ósseos para ancorar o aparelho na parte inferior. (Não é todo mundo que precisa executar o conjunto dessa obra. Eu, sim. A coisa comigo estava feia mesmo.)
O pior são os ferrinhos e elásticos atritando-se com a língua e as mucosas bucais. É um festival de doloridíssimas aftas. De chorar.
Ah, tem ainda a indescritível sensação de que seus dentes estão moles, que vão despencar (será que aquelas pessoas na sala de espera eram mesmo banguelas com dentaduras?). Mas passa.
Um ano depois de tudo isso, enfim o aparelho fixo foi embora. Ainda se exige um aparelho móvel -bem mais confortável. Os dentes ficaram. Estão retinhos. Quase como os de Gisele Bündchen. O dentista diz que também essa euforia maluca passa.

Texto Anterior: 5 dúvidas frequentes
Próximo Texto: Neurociência - Suzana Herculano-Houzel: O "barato da música"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.