|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALIMENTAÇÃO
A diferença está no preparo
Maneira de consumir a semente de linhaça interfere nos
benefícios à saúde, que vão da diminuição dos riscos de
doença cardiovascular ao alívio de sintomas da menopausa
RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cultivada desde a Antigüidade, a linhaça começou a ganhar importância na dieta humana há algumas décadas graças às suas qualidades nutricionais. Rica em ácido alfa-linolênico (composto da família do
ômega 3), fibras solúveis e insolúveis e lignanas (tipo de fitoestrógeno), a semente ajuda a minorar os riscos de doenças cardiovasculares, atenua os sintomas da menopausa, melhora o
funcionamento intestinal e fortalece o sistema imunológico.
Para aproveitar todas as suas
qualidades, no entanto, é preciso ficar atento à forma de consumi-la. "Se a pessoa precisa diminuir o nível de colesterol, pode triturar a linhaça para liberar o óleo que há dentro dela [e
possibilitar sua digestão]", afirma Maria Aquimara Zamboni,
nutricionista do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Quando o principal objetivo é regular as funções intestinais, é preferível
consumi-la inteira. "Quando a
linhaça é triturada, suas fibras
se quebram, e são elas que fazem o intestino funcionar", diz.
Nas lojas de produtos naturais e medicamentos manipulados, também é possível encontrar a linhaça processada na
forma de óleo e de cápsulas.
Nesses formatos, as fibras e a
lignana não estão mais presentes. Por isso, apenas as pessoas
que procuram obter exclusivamente os benefícios do ômega 3
-como melhoria do quadro de
hipertensão arterial e do colesterol total, diminuição dos riscos de trombose e infarto agudo, entre outros- devem optar
por eles. No entanto, o óleo é
contra-indicado a mulheres
nos dois trimestres finais de
gravidez, pois quadruplica o
risco de parto prematuro, segundo estudo canadense.
Para Gláucia Pastore, presidente da Sociedade Brasileira
de Ciência e Tecnologia de Alimentos e diretora da Faculdade
de Engenharia de Alimentos da
Unicamp, o ideal é embeber a
linhaça em água, leite ou sucos.
"Com a semente inteira e
embebida, aproveita-se o ômega 3 e é melhor também para o
intestino", diz. Se preferir descartar a água do molho, não há
problema, afirma, já que se perdem poucos nutrientes.
O presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), Durval Ribas Filho, alerta
para os possíveis riscos do consumo exagerado de linhaça em
sua forma triturada. Segundo
ele, a desintegração da semente
facilita a liberação de substâncias tóxicas respiratórias chamadas heterosídeos cianogênicos, que podem favorecer o surgimento da doença pulmonar
obstrutiva crônica, e de lineína
(proteína tóxica para o fígado).
"Isso não significa que não se
pode consumi-la triturada ou
moída. O problema é ingerir em
excesso, acima de 100 g por
dia", afirma. "Esse alimento virou moda, mas é bom alertar
que não faz milagre." De acordo
com os especialistas, a quantidade recomendável é uma colher de sopa de sementes ou
uma cápsula por dia.
Outro fator importante que
precisa ser observado é a maneira de armazenar as sementes depois de trituradas. O ideal
é fazê-lo momentos antes de
consumi-las, mas, se isso não
for possível, deve-se guardá-las
na geladeira, em pote escuro e
hermeticamente fechado.
A diretora do Departamento
de Nutrição da Sociedade de
Cardiologia do Estado de São
Paulo, Miriam Ghorayeb, ensina uma técnica simples para
triturar apenas as sementes
que serão consumidas na hora.
"Como o liquidificador não
consegue bater quantidades
pequenas, recomendo embrulhar algumas sementes em papel-filme, colocar um guardanapo de pano por cima e bater
com um batedor de carne."
Se a intenção for processar a
linhaça de manhã para consumi-la à noite, por exemplo, ela
recomenda ainda envolver o
plástico em papel-alumínio para proteger o conteúdo da luz e
evitar a perda de vitaminas.
"Deve-se armazenar em refrigerador para não oxidar a gordura [ômega 3]. Segundo a literatura, pode ficar em torno de
12 horas na geladeira", diz. Já
Maria Aquimara Zamboni
acredita que não há prejuízo
em guardar as sementes nessas
condições por até cinco dias.
Variedades e usos
Existem dois tipos de linhaça, a semente originária da
planta do linho: a marrom e a
dourada. Enquanto a primeira
é cultivada em regiões de clima
quente e úmido, como o Brasil,
a dourada cresce em áreas frias,
como o norte dos Estados Unidos e o Canadá. A dourada tem
maior concentração de lignanas, mas ambas fornecem boa
quantia de ômega 3 e fibras.
Consumido geralmente com
vitaminas de frutas, leite ou
mesmo água, esse ingrediente
pode ser utilizado também em
receitas mais elaboradas (veja
quadro). Vale lembrar que, diferentemente do trigo, da aveia,
da cevada e do centeio, a linhaça pode ser consumida por
alérgicos ao glúten, já que não
contém essa proteína.
Texto Anterior: Correio Próximo Texto: Como usar a linhaça moída Índice
|