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drible a neura
"Leite em pó dilui em água?"
MARGARETE MAGALHÃES
FREE LANCE PARA A FOLHA
"Usar supositório afeta a sexualidade do meu filho?" "Preciso diluir o leite em pó?" Parecem até anedotas, mas são
dúvidas de mães esclarecidas e absolutamente normais. Questões disparatadas como essas vêm à tona simplesmente por causa
do medo de errar com o filho, de falhar numa área tão importante como a da saúde.
A professora de inglês Adriana Gonçalves, 34, mãe de Marcelo, de 2 anos e meio,
e de Laura, de 9 meses, diz que só não ligou para o pediatra quando o cocô do filho saiu vermelho porque a irmã explicou que a cor era decorrente do suco de
laranja com beterraba que o bebê havia
tomado. "Tudo é preocupante. Prefiro
cuidado em excesso à falta dele", diz
Adriana.
"Eu fantasio mesmo, fico desesperada,
sou exagerada; afinal é a vida da minha filha", confessa a mãe e estudante de arquitetura Andressa Andrade, 23.
E isso não é nenhuma novidade para
pediatras. A diferença é que alguns são
mais pacientes, outros, menos. Alois
Bianchi, por exemplo, que clinica há 36
anos e até já atende os filhos de seus pacientes, é do tipo sensível aos apelos de
mãe. "Elas precisam de atenção. Para as
mães, a queixa é sempre enorme, por menor que ela realmente seja", diz o pediatra.
Regras subjetivas
Não é fácil traçar
a linha que separa o pai cuidadoso do
neurótico. Assim como é difícil avaliar se
o médico é insensível ou se está, na verdade, impondo os limites necessários para
que os pais aprendam a resolver parte
dos problemas sozinhos -quando eles
são problemas.
"Tem mãe que liga o dia inteiro por bobagem. É preciso respirar fundo e contar
até dez", reclama uma pediatra de São
Paulo que preferiu não ser identificada.
Segundo os pediatras entrevistados, são
comuns atitudes desesperadas, como a
de pais que não conseguem esperar nem
o dia clarear e ligam para o pediatra na
madrugada a fim de saber se a febre do filho é passageira ou sinal de pneumonia.
O professor de pediatria da Unifesp
Antonio Iazzetti pondera: "Não existe
pergunta boba, a função do pediatra é informar, pois a mãe ansiosa não consegue
distinguir o levemente grave do muito
grave".
Para ajudar os pais a avaliar o que pode
estar por trás do choro ou da falta de apetite do filho, o ideal é que o pediatra avise-os das mudanças por que passam as
crianças em cada fase. Só assim os pais
conseguirão controlar o impulso de ansiedade, como ligar para a casa do pediatra no meio da noite.
Se o pediatra do seu filho não é lá muito
esclarecedor, trate você de apresentar todas as suas dúvidas e não tenha receio de
alongar a consulta. O que costuma acontecer com as visitas rápidas ao consultório é que, na volta para casa, vêm à tona
todas as perguntas.
O pediatra Antônio Pastorino, 43, do
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, aconselha: faça uma lista em casa
com todas as suas dúvidas e leve-as para
o consultório.
Escolha antecipada
Uma medida
para evitar solicitações dispensáveis ao
pediatra é aproveitar o período de gestação para conhecer o futuro médico e
aprender um pouco sobre a saúde dos
bebês. Essa é a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, infelizmente
pouco seguida pelos pais.
A publicitária Georgia Mercadante Rela é uma exceção. Antecipou a escolha do
médico e não se arrepende. Ela acompanhava a afilhada nas consultas e gostava
do tratamento dado pelo pediatra. Quando nasceu seu primeiro filho, Jonas, a escolha já estava definida. "O que mais gosto no meu pediatra é que ele não tem
"frescurite". É um médico prático, que
não enrola."
Segundo Georgia, o estilo do pediatra é
parecido com o da família. "Trabalho o
dia inteiro e só posso ir à noite. Não vou
ao consultório para bater papo." As consultas de 15 minutos são o tempo exato
para ela. "Mais do que isso é bobagem."
Claro que essa regra não vale para todos. Consultas rápidas são o horror da
maioria dos pais. "Certas mães demandam mais atenção do médico. Dá para
saber quando a consulta será mais longa", diz o pediatra Roberto Bittar, 41, que
compara o relacionamento entre o pediatra e o paciente ao de um casamento. "Para manter um relacionamento harmonioso entre as partes é preciso haver sintonia. Adaptações e ajustes vêm com o
tempo."
Mais do que em outras especialidades
médicas, na pediatria, qualidades como
empatia, paciência, confiança e amizade
são fundamentais para o sucesso do tratamento, tanto quanto o conhecimento
técnico. Se houver empatia, as mães suportam até as longas esperas na ante-sala.
Stela Korich, mãe de quatro filhas, chegou a abandonar o primeiro pediatra
porque tinha de esperar até quatro horas
para ser atendida, mas voltou atrás.
"Tentei outro, só que sentia falta do atendimento personalizado. Ele não me olhava nos olhos. Lia o nome de minhas filhas
na ficha, e eu me sentia mais uma."
Tratamento impessoal é um dos maiores inimigos do pediatra. E aí é um problemão para as mães de hoje, que escolhem o médico do convênio pelo critério
do endereço mais próximo de casa. No
quesito "carência de mãe", pode-se dizer
que a professora Adriana tirou a sorte
grande. Vivia chateada com a pediatra
até que, por acaso, encontrou na rua uma
antiga amiga. Ela havia se tornado pediatra. Foi a salvação da professora. Se você
não tem essa sorte, pediatras revelam, na
página ao lado, os comportamentos mais
inadequados e também atitudes das
mães que, embora exageradas, são esperadas.
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