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Doutor Sócrates

Toque de calcanhar, futebol refinado e atuação política marcam carreira do médico que virou jogador, mas não atleta

Bob Thomas - 18.jun.1982/Getty Images
Na seleção de Telê, em Sevilha, contra a Escócia
Na seleção de Telê, em Sevilha, contra a Escócia

DE SÃO PAULO

Morreu ontem, aos 57 anos, em São Paulo, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ídolo do Corinthians, capitão da seleção de 1982 e um dos mais emblemáticos jogadores da história do futebol brasileiro.

Sócrates foi levado ao hospital Albert Einstein na última quinta com infecção intestinal causada por intoxicação alimentar. Morreu às 4h30 de ontem em decorrência de choque séptico -a infecção chegou ao sangue e se espalhou pelo corpo,

Internado outras duas vezes neste ano, o ex-jogador sofria de cirrose, em decorrência do consumo prolongado de álcool. Seu calvário começou no dia 19 de agosto, com hemorragia digestiva.

Em campo, Sócrates foi um meia de futebol refinado, dono de um excelente toque de bola, com apurada visão de jogo e finalizações precisas.

Pela seleção, disputou duas Copas (1982 e 1986).

Destro, celebrizou-se por uma jogada: o toque de calcanhar. Alto (1,90 m), recorria ao artifício para ganhar tempo e iludir os rivais. Também balançou as redes assim.

Foi na final de 1973 que o estudante de medicina, então aos 19 anos, assinou contrato profissional com o Botafogo de Ribeirão Preto (no interior de São Paulo) e decidiu levar o futebol a sério.

Ele estudava na USP e jogava com os juvenis do time da cidade que seu pai escolheu para morar quando deixou Belém (PA), anos antes.

No Estadual de 1974, jogou ao lado de Geraldão, o artilheiro da competição. Foi eleito a revelação do torneio.

Sócrates terminou a faculdade em 1977, ano em que conquistou o primeiro turno do Paulista com o Botafogo.

Em 1978, o time começou a negociar sua transferência para o São Paulo. Mas o presidente corintiano Vicente Matheus atravessou a negociação e o contratou.

No Corinthians, virou ídolo. Refez a dupla de sucesso com Geraldão e se uniu a Palhinha e a Casagrande, seus grandes parceiros de clube.

Com o segundo, liderou o movimento chamado "Democracia Corinthiana". "Foi o período mais rico que passei na minha história no futebol", contou Sócrates, em autobiografia em seu site.

Foi o capitão da aclamada seleção de Telê Santana na Copa de 1982, na Espanha. Teve ótimas atuações, fez dois gols, mas o time, tido como modelo do futebol-arte, acabou eliminado pela Itália.

Foi novamente campeão paulista pelo Corinthians em 1982 e 1983 -já havia conquistado o título em 1979.

Em 1984, aceitou convite para atuar pela Fiorentina, da Itália, onde teve passagem decepcionante. Segundo Sócrates, a decisão de sair do país foi motivada por um desgosto político: a não aprovação da emenda constitucional das eleições diretas.

De volta ao Brasil, foi jogar no Flamengo, onde reencontrou Zico, colega de seleção e com quem jogaria novamente no Mundial de 1986.

No México, de novo com Telê, mas sem a tarja de capitão, fez dois gols, mas não jogou tão bem. A França foi a algoz, em decisão por pênaltis na qual ele errou o seu.

Depois, passou por cirurgia de hérnia de disco e ficou meses parado. Em 1987, ainda no Fla, não se firmou por causa da condição física e pensou em aposentadoria.

Mas passaria, ainda, pelo Santos, sem sucesso. Em 1989, voltou a Ribeirão e disputou jogos pelo Botafogo antes de encerrar a carreira.

Chegou a ser técnico da Cabofriense-RJ, em 1999, mas não decolou na função.

Sócrates era colunista do jornal "Agora" e da "Carta Capital" e participava do "Cartão Verde", da TV Cultura.

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