'Embaixador' de Ribeirão Preto tinha até mesa cativa em bar

Sócrates passou mais de 40 anos em Ribeirão Preto e outros tantos entre São Paulo e a Itália, mas, durante todo esse tempo, foi uma espécie de "embaixador" da cidade.

A grande atração do ex-jogador por Ribeirão talvez fosse uma só: as pessoas. Na cidade, estão sua numerosa família, que chegou do Pará em 1959, e seus grandes amigos.

Muitos deles vivem até hoje em Ribeirão, como o compositor Roberto Sebastião Bueno, parceiro do ídolo. Sócrates trocou o interior pela capital, mas manteve o contato com os amigos.

Gostava de divulgar a cultura da cidade. Era entusiasta da Feira Nacional do Livro e membro do Cineclube Cauim, movimento cultural fundado na cidade e que também dá nome a uma marca de cerveja de Ribeirão -apreciada pelo ex-jogador.

Para se encontrar com os amigos, o local predileto era o bar. "A visão que tenho é que a vida começa às seis horas. Da tarde", disse certa vez.

Essa percepção talvez tenha se originado na família. A casa onde Sócrates morava com os pais e os irmãos nos anos 60 era uma espécie de "consulado cearense" -denominação dele-, pois recebia muitos parentes do pai, do Ceará, que iam para Ribeirão para estudar ou trabalhar.

Nos finais de semana, o "consulado cearense" vivia em festa. "Como meu pai, adoro gente", afirmou.

Um de seus bares prediletos era o Empório Brasília, onde há até uma mesa e uma placa sua homenagem. Lá, ele compôs muitas de suas músicas com o amigo Bueno.

Uma delas se chamava "Lei Seca". Escrita em 1992, narrava a história de um homem que teve de parar de beber por problemas de saúde.

Bueno guarda o papel, com a letra de Sócrates, até hoje. "Eu precisei parar de beber na época [1992]. Mas hoje tem tudo a ver com o Magrão. Vendo hoje, parece até premonição", disse Márcio Pallandri, 49, amigo e dono do bar.