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Eleições 2014

Eu, robô

Análise das redes sociais durante debate mostra que perfis falsos influenciaram o que se discutiu na internet

ALEXANDRE ARAGÃO DE SÃO PAULO

A conversa entre usuários no Facebook e no Twitter durante o debate presidencial no último domingo (28) foi fortemente influenciada pela atuação de robôs.

É o que mostra levantamento do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), feito a pedido da Folha.

Robôs são programas capazes de publicar mensagens de maneira coordenada, o que impacta os assuntos mais comentados na rede --no caso do Twitter, os "trending topics", no do Facebook, os chamados "itens populares".

O objetivo desse tipo de ferramenta é fazer com que a discussão na web seja manipulada de maneira positiva para a campanha que faz uso dela. Há diversos modos de fazer com que isso aconteça, como promover hashtags ("etiquetas", em tradução livre) oficiais e rebater adversários automaticamente.

Na análise feita durante o debate de domingo, o Labic --sigla do laboratório da Ufes-- identificou indícios de que a campanha do candidato Aécio Neves (PSDB) fez uso intenso dos robôs, tanto no Facebook como no Twitter.

A partir de rastreamentos com a hashtag oficial do debate (#debatenarecord) e com a do candidato (#SouAecio Voto45), o coordenador do laboratório, professor Fábio Malini, percebeu que em um período de 15 minutos as menções a Aécio no Facebook triplicaram --um forte indício de uso de robôs (veja o gráfico no topo da página).

A partir daquele momento, as curvas de citações a Aécio e à presidente Dilma Rousseff são praticamente idênticas. Os responsáveis pelo Labic afirmam que o comportamento indica que há robôs programados a favor do tucano para retrucar qualquer menção à petista.

No caso do Twitter, há dois tipos de robôs: os que tuítam muitas mensagens diferentes e os que trabalham em grupo retuitando todos um mesmo usuário ou mensagem.

Em abril, o então candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos --morto em agosto--, teve um tuíte replicado cerca de 5.000 vezes, enquanto sua média por postagem era cem vezes menor.

Na época, o partido negou utilizar robôs; Malini, entretanto, diz que a discrepância é um dos principais indícios do uso, já que o conteúdo da mensagem não tinha nada que justificasse essa replicação tão acima da média.

O pesquisador diz que o mesmo padrão pôde ser observado durante o debate entre perfis que publicavam mensagens a favor de Aécio, quando sua hashtag entrou nas mais comentadas.

Ele explica que a maioria dos perfis falsos está ligada à conta do publicitário Eduardo Trevisan, dono de uma empresa de monitoramento de redes sociais que trabalha na campanha do tucano.

OUTRO LADO

Trevisan nega que administre robôs e se diz vítima deles. "Alguém criou uma estrutura colossal que dá retuítes em dois perfis meus, o pessoal e um outro", afirma. A empresa dele, Face Comunicação On Line Ltda., recebeu R$ 130 mil da campanha tucana até o início do mês.

O publicitário diz que os serviços prestados à campanha são de monitoramento de redes sociais e de "análise de sentimento" --termo que designa a divisão de postagens entre positivas, negativas ou neutras. "Minha equipe virou a madrugada fazendo análise do que foi publicado no Twitter e no Facebook durante o debate", diz.

A campanha de Aécio disse já ter notado "comportamento anormal" em seus perfis no Twitter. Em nota à Folha, informou ter "a preocupação de identificar perfis que poderiam eventualmente prejudicar a campanha e denunciá-los ao Twitter".

Diz, ainda, que não usa robôs e não contratou empresas para isso. "Se for comprovada a atuação irregular deste ou de outro fornecedor (...) tomaremos as medidas cabíveis", conclui a nota.


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