A volta do bicho-papão
Escolhido para ser o próximo ministro da Fazenda se o tucano Aécio Neves for eleito presidente, Arminio Fraga vira alvo de petistas
"Ele não gosta de salário mínimo", disse a presidente Dilma Rousseff (PT), num comício na Bahia. É da turma do arrocho e ameaça o Bolsa Família, repete o PT na internet, no rádio e na televisão.
Apresentado pela campanha de Dilma como inimigo dos mais pobres e das conquistas sociais obtidas nos últimos anos, o economista Arminio Fraga, 57, virou um dos alvos a serem atacados na equipe de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais.
Arminio entrou na mira porque chefiou o Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2002, fase que o PT associa a desemprego, juros altos e recessão. Por causa do currículo no mercado financeiro, petistas diziam que ele era a "raposa tomando conta do galinheiro".
Arminio é tudo o que o PT gostaria de ter para alimentar a ideia de que a eleição é uma guerra de pobres contra ricos. Indicado por Aécio como seu ministro da Fazenda se for eleito, Arminio ficou milionário fazendo carreira no mercado financeiro.
Trabalhou anos em Nova York com o megainvestidor George Soros e estudou em boas escolas particulares do Brasil e dos EUA. Diz que conseguiu amealhar "há muito tempo" uma poupança que o permitiria deixar de trabalhar. Mora num condomínio de luxo no Leblon, bairro nobre do Rio, e viaja com frequência ao exterior.
Os amigos dizem que ele leva uma vida pacata. Arminio gosta de ver filmes em casa com a mulher, dirige o próprio carro e às vezes vai a pé ao trabalho. Diz que não tem iate, helicóptero nem apartamento em Nova York. Seu passatempo mais caro é o golfe do fim de semana.
Em 2010, já rico, Arminio fez o negócio de sua vida. Vendeu por US$ 550 milhões (R$ 1,3 bilhão a valores de hoje) o controle da Gávea, sua gestora de investimentos, ao banco americano J.P. Morgan.
Ele e os sócios receberam metade da quantia quando fecharam o negócio. A outra parte terminará de ser paga no ano que vem, quando acaba a exigência de que o economista administre a Gávea.
Se Aécio ganhar e Arminio se mudar para Brasília, terá que abrir mão de parte desse dinheiro. "Me custaria alguma coisa, mas isso não seria um problema. Eu gosto do que faço e dos meus sócios, mas é uma causa nobre e todo mundo entenderia", diz.
Armínio se engajou no projeto de Aécio há dois anos, influenciado por FHC. Com o início da campanha, entrou no time de vez. Troca ideias com o candidato por telefone, e-mail e pessoalmente. Dá palpites nos debates, reuniu 50 pessoas para formular o programa econômico e participou de reuniões para apresentar Aécio a empresários e investidores.
Arminio não é remunerado pela participação. Segundo pessoas próximas, ele gosta de política, embora não seja filiado a nenhum partido. Em 2008, pediu votos na TV e deu conselhos para o então candidato à prefeitura do Rio, Fernando Gabeira (PV).
"Ele é bem-intencionado. É bom ver alguém como ele, inquieto com a situação e disposto a assumir responsabilidades", diz Gabeira.
A sua passagem pelo BC, tão criticada pelos petistas, é, por ironia, o trabalho que fez dele um dos economistas brasileiros mais respeitados no exterior. Ao deixar a presidência do BC, em 2003, foi convidado para ser diretor do Banco da Inglaterra. Ele também entrou numa lista oferecida a Barack Obama com nomes para presidir o banco central dos EUA, o Fed.
CRISES
Arminio assumiu o BC com a economia à deriva: inflação em alta, dólar desgovernado e empresários e investidores pessimistas.
Abandonou a paridade do real em relação ao dólar sem deixar que a inflação voltasse. Montou uma estrutura diferente de tudo que se conhecia no país, baseada num modelo adotado em poucos lugares, como Nova Zelândia e Israel: o sistema de metas de inflação, em vigor até hoje.
Com o país em recessão e o desemprego em alta, ele elevou a taxa de juros de 25% para 45% ao ano. Após seis meses, porém, a economia voltou a crescer, a inflação amansou e os juros baixaram para 19%. Arminio enfrentaria mais duas crises, em 2001 e 2002. A última provocada pela aversão dos investidores à eleição de Lula.
Com a vitória do PT, o economista trabalhou para acalmar os mercados. Lula ficou bem impressionado com ele e chegou-se a cogitar mantê-lo no BC alguns meses, conta o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci no livro "Sobre Formigas e Cigarras".
Agora, se Aécio for eleito presidente, Arminio diz que sua tarefa imediata será restabelecer a confiança dos empresários para que voltem a investir. O primeiro passo seria tratar a inflação e as contas públicas às claras, o oposto do que ele diz que o governo Dilma faz.
Descrito pelos petistas como o economista da recessão, Arminio diz querer evitá-la no ano que vem. "Não vai ser um ano fácil, mas acredito que é possível evitar uma recessão. Pensamos nisso o tempo todo."