Índice geral Especial
Especial
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Eu sozinho absoluto

Brasil levará apenas um representante em 5 esportes que, no país, têm poucos praticantes e patrocínio ainda muito limitado

MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

"Eu sou meio bicho do mato e gosto de ficar só no quarto", conta a pentatleta Yane Marques, 28. A solidão não a apavora. Assim como a pernambucana, a delegação brasileira conta com outros atletas que serão representantes solitários de suas modalidades na Olimpíada de Londres.

Além de Yane, Rubens Donizete (mountain bike), Daniel Xavier (tiro com arco), Joice Silva (luta olímpica) e Ana Sátila (canoagem slalom) têm a missão de representar seus esportes, ainda sem tradição no Brasil, para tentar atrair atenção, novos praticantes e patrocinadores.

Atualmente, quase todos são foco de investimento do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) ou de suas respectivas confederações.

Yane, por exemplo, viaja para competições e treinos no exterior com verba do COB. Suas colegas brasileiras do pentatlo recebem só apoio da confederação brasileira.

Isso se reflete na disparidade técnica entre Yane e suas pares brasileiras, que não conseguiram conquistar a vaga olímpica. Enquanto a pernambucana é a terceira do ranking mundial, a segunda melhor brasileira -Priscila Oliveira- aparece só em 68º.

Yane diz que é uma vantagem ter um técnico exclusivo. Ao mesmo tempo, reconhece que é meio "egoísta".

Ela crê que o pentatlo moderno pode crescer no próximo ciclo olímpico.

"Acredito que esta será a última vez que o Brasil manda só um representante do pentatlo aos Jogos. Estamos colhendo frutos da criançada que começou nos projetos da confederação", afirma.

Nas viagens solitárias pelo mundo, Yane mantém uma rotina: "Ligo todos os dias para casa, falo com meu namorado e minha família, estudo coisas da faculdade e faço manutenção do material".

Apesar de se considerar "bicho do mato", Yane só vê desvantagens em ser representante única. O arqueiro Daniel Xavier acha o mesmo.

"Se tivéssemos uma equipe completa em Londres, daríamos mais força para a modalidade, além de ter mais três chances para conquistar a medalha", disse o arqueiro mineiro, de 29 anos.

O tiro com arco se tornou um foco do Brasil para 2016. O consultor de esporte do COB, Steve Roush, crê que investir forte em um só atleta para a próxima Olimpíada pode render bons resultados.

"No tiro com arco, é possível focar em desenvolver apenas um bom atleta. Não é como em outros esportes, em que é necessário ter parceiros de treinos", afirmou o americano que, no passado, trabalhou no Comitê Olímpico dos EUA e, nos últimos três anos, faz parceria com o COB.

Daniel discorda. Diz que ficará mais suscetível à pressão sem ter outro colega em Londres disputando os Jogos. No caso dele, a sensação de solidão é ainda maior pelo fato de seu técnico ser estrangeiro. Ele é comandado pelo sul-coreano Heesik Lim.

"É ruim, pois você tem que treinar e fazer toda a rotina sozinho", diz o arqueiro.

"Além disso, meu técnico não domina o português muito bem", completa.

Para ele, um dos fatores determinantes para seu bom desempenho na última Copa do Mundo, na qual conquistou a vaga olímpica, foi o apoio de um atleta experiente. Neste evento, ele recebeu o suporte de Gustavo Tranini, que, curiosamente, também foi um arqueiro solitário do Brasil nos Jogos de Pequim.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.