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Curador venezuelano Luis Pérez-Oramas opta pela exposição de grandes conjuntos de cada artista

DO CRÍTICO DA FOLHA

Quando entrou no museu Friedericianum, na Documenta de Kassel de 1997, o curador Luis Pérez-Oramas experimentou o que descreve como um momento de inflexão em sua carreira.

Pérez-Oramas, 52, recorda ter ficado "muito impressionado" com a forma como a Documenta 10 foi organizada por Catherine David, que apresentou uma série de arquivos e coleções, como a série "Atlas", de Gerhard Richter, e tal ideia nunca abandonou o curador.

Assim, para a atual edição da Bienal, "A Iminência das Poéticas", o curador e sua equipe -composta pelo alemão Tobi Maier, o brasileiro André Severo e a venezuelana Isabela Villanueva- decidiram apresentar grandes conjuntos de cada artista.

"Se as obras de arte produzem sentido por relações, o destino delas é ser constelar, isto é, quando alguém entra em contato com uma obra, imediatamente pensa em outra. Ninguém olha para ela sem criar relações", explica Pérez-Oramas.

Tal ideia é a base para os grupos de obras organizadas por temas -as constelações que organizam a Bienal.

A ideia de constelações também encontra correlatos na obra de Aby Warburg (1866 - 1929), historiador alemão que buscou analisar a cultura contemporânea através de uma catalogação sistemática de imagens.

Na definição de Pérez-Oramas, o pensamento de Warburg marca "o fim da história da arte como um sistema genealogista, formalista, que entende a arte como fruto de indivíduos geniais que se sucedem na temporalidade e que nascem, crescem e morrem". "Isso acabou. E então nasce um novo pensamento artístico que é mais ou menos constelar", diz.

CUBO BRANCO

Dessa forma, a 30ª Bienal se organiza como uma constelação maior, composta de grandes arquivos, como as 619 fotos de August Sander ou as 348 peças de Arthur Bispo do Rosário, dispostas em cubos brancos.

Pode parecer contraditório que uma Bienal se organize a a partir dos típicos dispositivos de exibição da arte moderna: o cubo branco era o expediente para que as obras, se distanciassem de qualquer relação com a realidade.

Luis Pérez-Oramas apresenta uma visão mais pragmática para a expografia criada pelo arquiteto Martin Corullon, com quem já havia trabalhado em 1998, na 24ª Bienal de São Paulo.

"Nós queríamos produzir espaços abertos que, ao mesmo tempo, permitissem atender às constelações internas, processuais de cada artista, seguindo as exigências das obras selecionadas". E completa: "Francamente, tivemos que simplificar os problemas, e não criar novos".

As constelações criadas, contudo, não são explicitadas no espaço expositivo -apenas no guia impresso, no qual são indicadas 12.

Cabe ao visitante conceber os temas de acordo com sua percepção, uma forma de não direcionar a leitura da mostra, como já aponta o título "A Iminência das Poéticas".

Segundo o próprio curador, o título é "hermético" porque, "se fosse totalmente claro, a chave estaria dada no título".

Assim, aponta o curador, a 30ª Bienal "não possui um tema, mas um motivo".

A partir do título, esse motivo divide-se em duas ideias: a iminência, como uma questão temporal e que, portanto, tem a ver com a experiência; e as poéticas.

"Poética é um instrumental que permite a qualquer pessoa, artista ou não, decidir como se expressar no público ou no privado", afirma.

PESSOAS COMUNS

E por que pensar a poética? "Na mudança da arte moderna para a arte contemporânea, uma das coisas que se desconstrói ou se questiona é a ideia da linguagem artística como algo excepcional e a do artista como uma figura fora da tribo, que tem uma linguagem própria", explica.

Por isso, Pérez-Oramas selecionou não só artistas estabelecidos mas pessoas comuns que também usam de uma linguagem ordinária como comentário do mundo.

"Se o questionamento das linguagens modernas passa pela reinscrição das linguagens artísticas no sistema de linguagens ordinárias, essa é a razão para selecionarmos obras de não artistas, como Arthur Bispo do Rosário ou Fernand Deligny", diz.

Em salas isoladas, a mostra poderia parecer evitar o diálogo entre os artistas, mas, nessa questão, Pérez-Oramas é categórico: "O princípio da Bienal não é impor diálogos, mas sim criar uma lógica de distâncias e proximidades".

(FABIO CYPRIANO)

Colaborou MARCOS GRINSPUM FERRAZ, colaboração para a Folha

Veja a entrevista na íntegra, a lista dos artistas e a galeria de fotos no especial
folha.com/122357

111 ARTISTAS PARTICIPANTES
56 ARTISTAS COM OBRAS INÉDITAS
3.000 OBRAS (APROXIMADAMENTE)
9 ESPAÇOS EXPOSITIVOS FORA DO IBIRAPUERA
R$ 22,4 MI É O ORÇAMENTO DA MOSTRA

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