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Verticalização se espalha pela Zona Sul

Santo Amaro tem maior crescimento; na Vila Mariana, 70% dizem morar em prédios

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

A professora de física Maria Angélica Marcondes, 55, sempre morou em casa. Ali mesmo, na Vila Mariana. Mas, divorciada depois de um casamento de 29 anos, filhos criados, ela caiu em depressão. Um mês de antidepressivos e, quando viu, estava no quiosque de vendas de um novo condomínio, perto do metrô. Comprou.

"Agora, meu foco é aproveitar mais a vida", diz Angélica. "Tenho cinema, teatro, shopping, lojas, restaurantes, tudo pertinho e sem os contratempos da vida em casa."

Ela tornou-se mais uma a aderir à maioria absoluta de moradores de apartamentos na Vila Mariana (70%). Apenas Moema (com 74%) tem proporção maior na zona sul.

"Está cada vez mais difícil achar um bom jardineiro. E o que dizer dos equipamentos de segurança que uma casa demanda? Pois bem, quem mora em prédio não tem de se preocupar com isso", explica Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP, Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo.

A pesquisa Datafolha constatou uma corrida aos prédios na zona sul de São Paulo.

Entre 2008 e 2012, o número de moradores de apartamentos subiu em média 5 pontos percentuais (eram 16%, agora são 21%).

Há bairros, contudo, em que essa variação foi dramática, como Santo Amaro, onde o salto foi de 18 pontos percentuais (eram 35% em 2008, são 53% hoje), Saúde (de 43% para 58%), Campo Grande (de 28% para 43%) e Ipiranga (de 25% para 39%).

O BOOM DE SANTO AMARO

Na zona sul, o Datafolha constatou, o problema que mais cresceu nas preocupações dos moradores foi a violência urbana. Saltou de 6% para 13% (leia texto à pág. 10).

Segundo especialistas, é fator a empurrar os moradores para prédios. Mas há outros, como o acesso ao transporte coletivo de qualidade (leia-se metrô), a proximidade de shoppings, restaurantes e centros culturais. São os fatores extra-condomínios.

Entre os intramuros, segundo Zaidan, inclui-se um novo conceito de morar.

"Quem trabalha o dia todo, quer uma casa funcional. Os ambientes podem ser pequenos porque tudo encolheu: a televisão sem o tubo, o computador com os notebooks, o aparelho de som com os gadgets eletrônicos", enumera.

"A cozinha (sem despensa porque ninguém mais faz estoque de alimentos) pode ser aberta para a sala. Tornou-se quase decorativa, já que almoçar ou jantar fora deixou de ser apenas programa de fim de semana", diz.

Em alguns bairros, as torres de concreto brotando sinalizam a ressurreição da vizinhança. É o caso de Santo Amaro, vizinhança antiga que foi município independente até 1935, quando se incorporou a São Paulo.

Há tempo, Santo Amaro estava engessado entre o casario bonito, típico de bairros bem urbanizados (onde se instalaram os imigrantes alemães) e um comércio popular degradado -nos anos 80, ali era cenário de saques e quebra-quebras de ônibus.

Mas bastou o anúncio da construção da linha 5-lilás do metrô para o início de um boom imobiliário. Em uma só quadra, localizada a 400 m da futura estação, comprimem-se quatro edifícios recém-construídos.

Um quinto está sendo lançado. A planta básica prevê apartamentos de 31 a 78 m² de área privativa. "É para estudantes, solteiros, casais em início de vida, gays", diz a corretora no empreendimento. "A vida, a balada, a festa acontecem na rua. A casa é para recarregar as baterias", afirma. E para isso, esses casulos são mais do que bons.

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