São Paulo, 20 de fevereiro de 1997

Bardi, o professor 'semprepronto'

CASSIANO ELEK MACHADO
free-lance para a Folha

Em 13 de outubro de 1982, as muretas em frente ao número 1.578 da avenida Paulista amanheceram pintadas com a palavra merda em pouco discretas letras vermelhas.
O responsável pela pintura foi Pietro Maria Bardi, o então diretor-técnico do Masp, que protestava contra as constantes pichações eleitorais nos muros do museu.
O pincel utilizado por Bardi no episódio virou obra de arte. O artista Wesley Duke Lee o colocou dentro de uma caixa em que está escrito ''Eveready'', algo como ''semprepronto'' em português.
A junção das duas palavras é uma das melhores definições de Bardi. ''Semprepronto'', lutou na Primeira Guerra Mundial, aos 16 anos. De perfil irrequieto, estudou apenas até o 3º ano do primário, período que repetiu por três vezes.
Apesar disso, é conhecido como ''professor'', escreveu mais de 50 livros e montou um museu com acervo avaliado em US$ 1,5 bilhão.
A história do Masp começou junto à chegada de Bardi ao Brasil, em 1946. Depois de escrever em diversos jornais italianos _um dos quais fundou_, montar galerias em Roma e Milão, entre outras atividades, Bardi, ''eveready'', embarcou no navio Almirante Jaceguai e veio ao Rio de Janeiro com duas mostras de arte italiana.
O jornalista e empresário Assis Chateaubriand visitou uma das exposições. Ao conhecer o italiano, perguntou: ''Tu és aventureiro?''. Bardi respondeu afirmativamente. Chatô o convidou a criar o museu _do qual o ''professor'' só se afastou em 1990.
Com faro apurado, Bardi buscou o valioso acervo do museu em coleções devastadas pela Segunda Guerra. O primeiro quadro adquirido para o Masp, por uma ninharia, foi um Picasso da fase azul.
Além de fomentar as artes plásticas no Brasil, Bardi é conhecido como pioneiro nas áreas da moda _realizou o primeiro desfile internacional no país_, do design _valorizou o desenho industrial nacional em diversas mostras_ e da propaganda _foi fundador da hoje chamada Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Inúmeras vezes pousou como 'garoto-propaganda' de causas culturais. Também atraiu a atenção da mídia em batalhas com seus inimigos, como Gilberto Chateaubriand, que lhe acusa de roubar telas do Masp e ganha farpas de Bardi até hoje. ''Semprepronto".

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