São Paulo, 2 de outubro de 1999

Respeito era marca do casal

da Redação

Se Pietro Maria Bardi dizia que, por ser fiel a Lina Bo (1914-1992), eles não faziam jus à comparação com Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, tantas vezes repetida, em algo o casal de idealizadores do Masp se parecia com a dupla de existencialistas franceses.
Quem conviveu com o casal Bardi diz, em primeiro lugar, que a relação dos dois era marcada por profunda admiração e respeito, “até muito mais intelectual do que doméstico”, segundo o arquiteto Marcelo Suzuki, que trabalhou com Lina de 1981 até a morte da arquiteta, em 1992.
Os dois italianos chegaram ao Brasil logo depois da Segunda Guerra, “vindos de uma Europa destruída para um lugar mais livre, cheios de vontade de trabalhar”, explica André Wainer, outro colaborador, entre 1977 e 1992, da arquiteta _ou “arquiteto”, como preferia Lina, alegando que em sua língua mãe a profissão não tinha feminino.
“Era um casal completamente incomum, moderníssimo. Por exemplo, decidiram ficar no Brasil quando passaram por aqui em viagem de núpcias. Eram livres como pássaros, nem voltaram para buscar as coisas: mandaram despachar”, continua Suzuki.
“Eles se apoiavam o tempo todo um no conhecimento do outro. Ele era extremamente realizador; Lina conhecia profundamente história da arquitetura, da arte”, reforça Wainer, “mas tiveram períodos de afastamento”, diz, referindo-se à época em que Lina esteve em Salvador, implantando o Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão, enquanto Bardi continuou em São Paulo.
Apesar da sintonia afinada, os dois espíritos empreendedores às vezes tinham visões diferentes.
Por exemplo, foi de Lina que partiu a idéia de instalar no Trianon, na av. Paulista, o museu moderno que estaria para sempre associado à sua imagem. Suzuki diz que Lina costumava relembrar o dia em que, ao dividir sua idéia para a localização do Masp com o marido, ele teria dito: “Isso é loucura de mulher”.
“Ela ficou bravíssima, no sentido brasileiro do termo”, prossegue Suzuki. “Depois, quando Chateaubriand comprou a idéia e Bardi foi atrás ela ficou orgulhosíssima.”
Mas se o “bravíssima” vinha dele para ela, como elogio, conclui Suzuki, “vinham-lhe lágrimas aos olhos”. “Era até muito comum, mas ela sempre se emocionava.”

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