São Paulo, 2 de outubro de 1999

Leia o último texto de
Pietro M. Bardi


PIETRO MARIA BARDI

Quando, em 1946, eu me transferi de Roma para o Brasil e conheci o senhor Assis Chateaubriand, o qual falava italiano muito bem, criou-se entre nós um intercâmbio de informações a respeito dos nossos dois países. A guerra tinha então terminado, e as duas nações caminhavam na retomada da pacificação e da cordialidade.
Como o meu interlocutor pensava em abrir um museu de arte, tive a possibilidade de lhe oferecer algumas idéias práticas. Deram por resultado minha recente nomeação a presidente de honra do Museu de Arte de São Paulo, depois de tê-lo implantado e dirigido por mais de quatro decênios.
Chateaubriand naquele tempo atendia a três das suas famosas campanhas: a específica do museu, a da redenção da criança e a dos aviões para o Brasil. Tive ocasião até de batizar um avião com o título de “Garibaldi”, ver a criação de creches para crianças abandonadas e dar uma mão para formar a Pinacoteca em São Paulo.
Mas o que me persuadia a me naturalizar foi a relação com o diretor dos “Diários Associados”, seu saber e sua generosidade, como também, e dito sem espanto para os avarentos, o quanto escrevi “ab antiquo” no meu livro “Sodalício com Assis Chateaubriand” e o que mais direi no meu próximo trabalho, “Vida do Museu de Arte de São Paulo”, um autêntico milagre do qual os leitores poderão se dar conta oportunamente.
Estas últimas reflexões me acodem ao pensar que o nosso presidente lançou há pouco a sacrossanta campanha contra o analfabetismo. Este e o problema das favelas são as questões mais urgentes do Brasil. Inútil ou quase atender ao caso dito cultural se não se erradica o analfabetismo.
É a partir daí que se conscientizam as pessoas da necessidade da cultura, base da torre que se deve construir. Toda a turma de novos legisladores deve considerar o problema, mesmo porque somente assim se dão os meios para a população entender, por exemplo, a enxurrada de manifestos que alegram os muros das cidades.
Temos inúmeras novidades neste final de século, mas ainda não apareceu um outro Chateaubriand, fervoroso exator de inúmeras exigências nacionais. Os imensamente ricos e herdeiros fabulosos não faltam. O que falta é outro Chatô, cujo centenário, no ano que vem, o Museu de Arte de São Paulo homenageará com uma digna exposição, em que será também lançado o livro a ele dedicado, de autoria de Fernando Morais.

Pietro M. Bardi escreveu este texto, até hoje inédito, em 1992

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.