São Paulo, 19 de Maio de 1996


Poema


Pátio
Com a tarde
Cansaram-se as duas ou três cores do pátio.
A grande franqueza da lua cheia
Já não entusiasma o seu habitual firmamento.
Hoje que o céu está frisado,
Dirá a crendice que morreu um anjinho.
Pátio, céu canalizado.
O pátio é a janela
Por onde Deus olha as almas.
O pátio é o declive
Por onde se derrama o céu na casa.
Serena
A eternidade espera na encruzilhada das estrelas.
Lindo é viver na amizade obscura
De um saguão, de uma aba de telhado e de uma
/cisterna.

Tradução de MANUEL BANDEIRA
No livro "Poemas Traduzidos", 1ª edição de 1945



Un Patio
Con la tarde
se cansaron los dos o tres colores del patio.
Esta noche, la luna, el claro círculo,
no domina su espacio.
Patio, cielo encauzado.
El patio es el declive
por el cual se derrama el cielo em la casa.
Serena,
la eternidad espera en la encrucijada de estrellas,
Grato es vivir em la amistad oscura
de un zaguán, de una parra y de um aljibe.

JORGE LUIS BORGES
Do livro "Fervor de Buenos Aires", 1ª edição de 1923, 2ª edição revista de 1976, em "Obra Poética" da Emecé Editores, Buenos Aires.



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