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Livro
diz que Jorge Luis Borges é
"invenção" de Bioy Casares
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
De Washington
Jorge Luis Borges nunca existiu. Era um personagem criado por Adolfo Bioy
Casares, que contratou um ator para representá-lo em público.
Essa é a idéia defendida no romance ``There Is No Borges'',
do alemão Gerhard Kopf, publicado nos EUA no ano passado pela George
Braziller (196 páginas, US$ 18,50).
O livro tem como narrador um decadente e suicida professor de literatura
portuguesa que viaja da Alemanha para Macau para uma conferência.
No avião, encontra-se com um misterioso passageiro argentino que
diz ter conhecido Bioy Casares e Borges e lhe oferece novos subsídios
para a idéia de que este não passara de uma invenção
daquele.
O livro é coalhado de citações das obras e das biografias
de Bioy Casares e Borges usadas como indícios para decifrar a realidade.
A chave para descobrir o segredo está no romance de Bioy Casares
``A Invenção de Morel'', prefaciado por Borges.
De acordo com o argumento, Bioy Casares inventou Borges para obter a realização
que os escritores mais ambicionam: não só criar personagens
mas torná-los seres vivos.
O ator que viveu Borges, de acordo com o livro, se chamava Aquiles Scatamacchia
e foi contratado por Bioy Casares para interpretar o papel quando trabalhava
num teatro de província na Argentina.
A famosa frase de Borges ``ler é pensar com a mente de um estranho''
é citada como uma das provas de que um ator viveu o personagem
do poeta.
Scatamacchia teve problemas com a vista de tanto ler os originais que
Bioy Casares criava para Borges e isso fez nascer o que é chamado
``o mito do cego que vê''. ``A cegueira não reduziu o Projeto
Borges. Ao contrário, transformou-o numa espécie de culto'',
diz o livro.
Os problemas se tornaram maiores quando o ator, cego, deixou de conseguir
recordar com precisão os textos de Bioy Casares que, então,
contratou a única pessoa a quem deu acesso à verdade: Maria
Kodama.
Kodama não deveria jamais se separar de Scatamacchia para não
deixá-lo cometer erros. Mas o ator acabou se apaixonando por ela
e os dois se casaram, com a permissão de Bioy Casares.
Ela recebeu todos os direitos dos livros assinados por Borges sob a condição
de jurar sobre a Bíblia não contar a verdade a ninguém.
Além da tese de que Borges não passou de um personagem de
Bioy Casares, o livro de Kopf também defende a teoria de que Cervantes
e Shakespeare foram a mesma pessoa.
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