São Paulo, 5 de Fevereiro de 1999


MILONGA DE MANUEL FLORES


Manuel Flores vai morrer.
Isso é moeda corrente;
Morrer é um desses costumes
Que todo mundo consente.
E me dói ainda assim
Despedir-me desta vida,
Desta coisa tão de sempre,
Tão doce e tão conhecida.
Olho minhas mãos na aurora,
Olho nas mãos minhas veias;
Com estranheza eu as olho
Como se fossem alheias.
Virão os quatro balaços,
Com os quatro o esquecimento;
Merlin disse sábio: a morte
Começa no nascimento.
Quanta coisa em seu caminho
Estes olhos terão visto!
Quem sabe o que mais verão
Depois que me julgue Cristo.
Manuel Flores vai morrer.
Isso é moeda corrente;
Morrer é um desses costumes
Que todo mundo consente.



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