São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 1999




BRASIL E CHINA
Comércio bilateral ainda engatinha

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O vice-presidente João Goulart estava na “China Comunista” (como se dizia na época) quando Jânio Quadros renunciou à Presidência em agosto de 1961.
O governador de Alagoas Fernando Collor de Mello comia um pato laqueado em Pequim em 1988 quando, com um grupo de amigos íntimos, resolveu que se candidataria à Presidência.
A importância da China para o Brasil vai, é claro, muito além desses dois fatos anedóticos e fortuitos da história recente do país.
Está marcado para o próximo dia 15, por exemplo, o lançamento do primeiro satélite sino-brasileiro, o Sibers 1, da base espacial de Taiyan. Em 2001, será colocado em órbita o Sibers 2.
Os satélites, que vão realizar observações óticas da Terra e colher dados sobre o ambiente natural, são uma demonstração da potencialidade da maior aproximação entre o primeiro e o quinto maiores países do mundo em população (terceiro e quinto em área).
No entanto, embora do ponto de vista político as relações entre China e Brasil sejam excelentes, em termos materiais elas ainda são quase insignificantes, dadas as dimensões e a importância geopolítica das duas nações.
Em 98, o Brasil exportou cerca de US$ 900 milhões para a China e importou US$ 1 bilhão (no total, o país exportou US$ 51,1 bilhões e importou US$ 57,7 bilhões).
Os motivos por que esse comércio bilateral não aumenta são diversos. Um dos mais importantes é a falta de agressividade do empresariado brasileiro na área.
Há, por exemplo, uma impressão generalizada de que a China “é muito longe” e que fazer negócios lá “é difícil”. Depois, há o fato incontestável de que o retorno dos investimentos em negócios na China não são imediatos.
A crise asiática ajudou a desestimular empresas que já estavam com um pé na China, como a Cotia Trading.
A possibilidade iminente da entrada da China na Organização Mundial do Comércio pode servir como incentivo para reverter a tendência de debandada.
A busca por sinergia entre empresários que têm negócios com o Japão também é uma motivação para ampliar a presença brasileira na China. A provável influência do Brasil sobre Timor Leste independente também é um canal para o país atuar mais na Ásia. A reanexação de Macau pela China justifica um intercâmbio cultural mais intenso entre os dois países.
China e Brasil têm diálogo político bastante fluido e posições convergentes em temas internacionais. Nem sempre foi assim.
Foi em 1914 que o primeiro embaixador brasileiro foi credenciado junto à República da China.
Em novembro de 1949, pouco após a Revolução maoísta, o embaixador Gastão Paranhos do Rio Branco deixou Nanquim e embarcou para o Japão. Três anos depois, a Embaixada do Brasil passou a funcionar em Taiwan.
Em 15 de agosto de 1974, o Brasil estabeleceu relações com a República Popular da China e rompeu com a República da China (Taiwan). O país aceita hoje o princípio de uma só China.
Mesmo assim, a questão de Taiwan continua a ser o único ponto sensível nas relações entre os dois países. Sempre que um parlamentar ou governante estadual visita Taiwan, o governo chinês manifesta seu desagrado.
O Brasil é um dos oito países do mundo com quem a China resolveu estabelecer “parcerias estratégicas”. Um dos pilares da política externa chinesa é apostar nessas parcerias para formar uma “aliança anti-hegemônica”.


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