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BRASIL E CHINA
Comércio bilateral ainda engatinha
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O vice-presidente João Goulart estava na China Comunista
(como se dizia na época) quando Jânio Quadros renunciou à
Presidência em agosto de 1961.
O governador de Alagoas Fernando Collor de Mello comia um pato laqueado
em Pequim em 1988 quando, com um grupo de amigos íntimos, resolveu
que se candidataria à Presidência.
A importância da China para o Brasil vai, é claro, muito
além desses dois fatos anedóticos e fortuitos da história
recente do país.
Está marcado para o próximo dia 15, por exemplo, o lançamento
do primeiro satélite sino-brasileiro, o Sibers 1, da base espacial
de Taiyan. Em 2001, será colocado em órbita o Sibers 2.
Os satélites, que vão realizar observações
óticas da Terra e colher dados sobre o ambiente natural, são
uma demonstração da potencialidade da maior aproximação
entre o primeiro e o quinto maiores países do mundo em população
(terceiro e quinto em área).
No entanto, embora do ponto de vista político as relações
entre China e Brasil sejam excelentes, em termos materiais elas ainda
são quase insignificantes, dadas as dimensões e a importância
geopolítica das duas nações.
Em 98, o Brasil exportou cerca de US$ 900 milhões para a China
e importou US$ 1 bilhão (no total, o país exportou US$ 51,1
bilhões e importou US$ 57,7 bilhões).
Os motivos por que esse comércio bilateral não aumenta são
diversos. Um dos mais importantes é a falta de agressividade do
empresariado brasileiro na área.
Há, por exemplo, uma impressão generalizada de que a China
é muito longe e que fazer negócios lá
é difícil. Depois, há o fato incontestável
de que o retorno dos investimentos em negócios na China não
são imediatos.
A crise asiática ajudou a desestimular empresas que já estavam
com um pé na China, como a Cotia Trading.
A possibilidade iminente da entrada da China na Organização
Mundial do Comércio pode servir como incentivo para reverter a
tendência de debandada.
A busca por sinergia entre empresários que têm negócios
com o Japão também é uma motivação
para ampliar a presença brasileira na China. A provável
influência do Brasil sobre Timor Leste independente também
é um canal para o país atuar mais na Ásia. A reanexação
de Macau pela China justifica um intercâmbio cultural mais intenso
entre os dois países.
China e Brasil têm diálogo político bastante fluido
e posições convergentes em temas internacionais. Nem sempre
foi assim.
Foi em 1914 que o primeiro embaixador brasileiro foi credenciado junto
à República da China.
Em novembro de 1949, pouco após a Revolução maoísta,
o embaixador Gastão Paranhos do Rio Branco deixou Nanquim e embarcou
para o Japão. Três anos depois, a Embaixada do Brasil passou
a funcionar em Taiwan.
Em 15 de agosto de 1974, o Brasil estabeleceu relações com
a República Popular da China e rompeu com a República da
China (Taiwan). O país aceita hoje o princípio de uma só
China.
Mesmo assim, a questão de Taiwan continua a ser o único
ponto sensível nas relações entre os dois países.
Sempre que um parlamentar ou governante estadual visita Taiwan, o governo
chinês manifesta seu desagrado.
O Brasil é um dos oito países do mundo com quem a China
resolveu estabelecer parcerias estratégicas. Um dos
pilares da política externa chinesa é apostar nessas parcerias
para formar uma aliança anti-hegemônica.
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